Informações de instituições importantes, como a revista científica Nature e a União Europeia, são de que paracetamol, ativo do Tylenol, é seguro, ao contrário de fala recente do presidente dos Estados Unidos Saúde, Autismo, Donald Trump, OMS (Organização Mundial da Saúde) CNN Brasil
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e agências internacionais de saúde rebateram, nesta terça-feira (23), declarações recentes do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que sugerem uma relação entre o uso de paracetamol, princípio ativo do medicamento Tylenol, durante a gravidez e o risco de autismo em crianças.
Na segunda-feira (22), Donald Trump anunciou que a Food and Drug Administration (agência reguladora de alimentos e medicamentos dos EUA, equivalente à Anvisa) notificará médicos sobre o uso de Tylenol durante a gravidez “poder estar associado a um risco muito maior de autismo”. O líder ressaltou que as mulheres não devem usá-lo na gestação “a menos que seja clinicamente necessário”, como em caso de febre.
O porta-voz da OMS, Tarik Jasarevic, declarou em coletiva de imprensa que as evidências de uma associação entre o paracetamol e o autismo “continuam inconsistentes”. “Então, isso é algo científico, e essas coisas não devem ser realmente questionadas”, acrescentou, em coletiva de imprensa realizada em Genebra, na Suiça.
A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) afirmou que não há novas evidências científicas que justifiquem alterações nas recomendações atuais sobre o medicamento. “As evidências disponíveis não encontraram nenhuma ligação entre o uso de paracetamol durante a gravidez e o autismo”, destacou também o órgão em comunicado.
Em comunicado enviado à CNN, a organização Autistas Brasil denuncia discurso e alerta para o risco de políticas que desumanizam pessoas autistas.
Em nota, o vice-presidente da Autistas Brasil, Arthur Ataide Ferreira Garcia, classificou as declarações como parte de um projeto político de apagamento das pessoas com deficiência.
“Trump e Kennedy não estão apenas equivocados quando falam que o autismo é causado pelo uso de Tylenol, não é meramente um erro, é um projeto político. Estão reintroduzindo no século XXI a lógica eugenista que trata pessoas com deficiência como tragédia. O autismo se torna um vilão a ser combatido, e pessoas autistas são reduzidas a sujeitos desumanizados numa cruzada moral em nome de uma sociedade ‘pura’ e homogênea, sem lugar para aqueles tidos como ‘diferentes’, ‘estranhos’, ‘deficientes’”, afirmou Garcia.
Segundo a entidade, o aumento de diagnósticos de autismo observado nas últimas décadas não é epidemia nem crise de saúde pública, mas reflexo de maior acesso à avaliação e diagnóstico, especialmente entre grupos historicamente invisibilizados, como mulheres autistas e pessoas negras.
Fabricante também alerta sobre informação divulgada pelo presidente
A fabricante do Tylenol, Kenvue, disse no início deste mês que havia se envolvido em um “intercâmbio científico” sobre o assunto com autoridades do Departamento de Saúde dos EUA e pediu que mulheres grávidas conversassem com seu médico antes de tomar qualquer medicamento de venda livre.
“O paracetamol [princípio ativo do Tylenol] é a opção mais segura de analgésico para gestantes, conforme necessário, durante toda a gestação”, afirmou a empresa em um comunicado no domingo (21).
“Sem ele, as mulheres enfrentam escolhas perigosas: sofrer com condições como febre, que são potencialmente prejudiciais à mãe e ao bebê, ou recorrer a alternativas mais arriscadas.”
“Os fatos são que mais de uma década de pesquisas rigorosas, endossadas por importantes profissionais médicos e reguladores globais de saúde, confirmam que não há evidências confiáveis que vinculem o paracetamol ao autismo. Apoiamos os muitos profissionais de saúde pública e médicos que revisaram essa ciência e concordam.”
Diagnóstico de autismo falhou com mulheres e meninas, revela estudo
*Com informações da Reuters e da CNN Internacional.

