A Pesquisa Nacional sobre Práticas Sustentáveis e Aplicação das Dimensões ESG nas Organizações 2025, realizada pelo Instituto ADVB de Responsabilidade Social e Grant Thornton Brasil, explicita a disposição das organizações brasileiras em assumir compromissos com o desenvolvimento sustentável dentro de suas iniciativas ESG (boas práticas ambientais, sociais e de governança), com benefício para atuação da própria empresa e de suas cadeias de valor à medida que contribuem para melhorar a imagem institucional, o relacionamento com os clientes e o engajamento dos colaboradores.
Contudo, o balanço ainda registra uma assimetria entre intenção e prática, mesmo tendo o ESG status de imperativo estratégico para os negócios no mercado brasileiro.
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Um dos destaques da pesquisa é a afirmação de que as atividades sustentáveis fazem parte da visão estratégica das empresas para 91% dos respondente, por diferentes motivos, como serem identificadas como empresas-cidadãs (52,5%), melhorar a imagem institucional (48,7%), fortalecimento da relação com os clientes (44,8%), atendimento de compliance regulatório (38,4%) e corresponder à demanda de cliente e/ou instituição financeira (28,2%).
As práticas ESG constituem uma evolução na estratégia corporativa, em grande parte porque os stakeholders (partes interessadas) exigem que as corporações orientem seus negócios pelos pilares ESG, tornando-se ética, transparente e socialmente responsável.
Há muita variação sobre a área corporativa responsável pela iniciativa de sustentabilidade dentro das empresas. Para 47,4% das companhias respondentes são os Recursos Humanos; para 42,3%, a Presidência; para 29,4%, Marketing e Comunicação e para 28,2% são outras áreas.
O RH ainda tem um papel importante na incorporação das práticas ESG dentro das organizações porque está diretamente envolvido na aquisição de talentos e métricas de recrutamento, além de ser um elo com os colaboradores, a cultura corporativa e o engajamento dos funcionários, que pode levar a uma retenção maior e consolidação da marca como uma empregadora bem avaliada no mercado.
De acordo com a pesquisa, o ESG está presente nos mecanismos de gestão e diligência, embora 82% das organizações não incluam a sustentabilidade na agenda de seus órgãos de governança e 47,6% não possuam uma política de sustentabilidade na organização e não divulguem informações ESG em relatório anuais.
A pesquisa apontou também defasagens, caso de 41% que não engajam seus fornecedores em práticas ESG e de 43,5% que não desenvolvem sua Matriz de Materialidade, voltada à relevância das informações que podem influenciar os stakeholders internos e externos. Mas 50% empregam materialidade de impacto, que leva em consideração o impacto da empresa na sociedade e no meio ambiente, e 40,4% utilizam a dupla materialidade, que aborda como os fatores ESG afetam a corporação e como suas operações influenciam o mundo.
Vale ressaltar que a estrutura de uma matriz de materialidade bem estruturada é fundamental para transpor a estrutura tradicional de uma empresa para um modelo sustentável. A Matriz de Materialidade deve refletir impactos, riscos e oportunidades das questões ESG para a corporação.
De acordo com a pesquisa, a avaliação das questões de sustentabilidade, incluindo o impacto financeiro, tende a crescer em função das Resoluções da Comissão de Valores Mobiliários (193, 27, 218, 219 e 227).
A primeira normativa estabelecia a obrigatoriedade de as empresa divulgaram relatório de informações financeira relacionadas à sustentabilidade pelas companhias abertas, securitizadoras e fundos de investimento; mas foi modificada pela CVM 227, editada neste ano, que possibilita que as empresas que adotem de forma voluntária a divulgação dos relatórios de informações financeiras relacionadas à sustentabilidade até 31 de dezembro de 2025.
A governança ganha um foco mais destacado na pesquisa, superando os fatores social e ambiental. Lidera com 71%, seguida pelo social (62%) e ambiental (65%). O avanço da governança está expresso no alinhamento ao Pacto Global da ONU/Agenda 2030 e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), de conhecimento de 49,1% dos respondentes.
Contudo, não há dados sobre a forma estratégica como os ODS são integrados às operações, cultura organizacional e comunicação corporativa. A cultura organizacional surge fortalecida na pesquisa, uma vez que 68,2% afirmam realizar treinamentos e ações de conscientização sobre o ESG com seus colaboradores, emprego de códigos de ética (89%), canais de denúncia com foco em direitos humanos (82%) e sistemas de compliance (83%). Práticas empresariais éticas resultam em sistemas de conformidade robustos e consolidam a confiança e justiça junto às partes interessadas.
Na dimensão social, 65% das empresas possuem política de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) e 51% possuem ações afirmativas, mas ainda é alto o outro lado da moeda: 35% das empresas não possuem política interna de DEI e 49% não adotam ações afirmativas ao contratar.
Também não há priorização da questão de gênero voltada à liderança feminina e 43,6% não cumprem cota de PCDs (56,2%) .Dentro do espectro DEI, os grupos minoritários mais contemplados são pessoas negras (pretos e pardos) com 61,2%, geracional (54,8%) e LGBT (48,3%).
No fator social, ainda ganha destaque a saúde e segurança no ambiente do trabalho, talvez por ser uma questão colocada há mais tempo dentro das empresas. O tema se mostra mais consolidado, sendo que 83,6% dos respondentes possuem sistema de gestão nessa área e 78,1% incluem saúde mental no ambiente de trabalho, com programas de qualidade de vida alinhados à atualização da NR-1 (Norma Regulamentadora do Ministério do Trabalho e Emprego), em vigência desde maio último, que passou a incluir riscos psicossociais no Programa de Gerenciamento de Riscos das empresas.
A maior defasagem apresentada pela pesquisa está no fator ambiental, a despeito da pressão do crescimento dos eventos climáticos extremos. Os executivos respondentes apontam que 76,3% das organizações atuam para reduzir recursos naturais, como energia (90,4%), água (73,8%) e materiais (57,1%). O total de 69% das empresas, porém, não adota o Sistema de Gestão Ambiental (SGA), que seria auditado periodicamente e certificado. A pesquisa não explora se há gestão de resíduos sólidos, reciclagem de materiais, design de produtos com menor impacto ambiental e demais metas ambientais.
A questão do clima ainda apresenta outro vácuo. Quase a metade das empresas (43,4%) não realizam inventário de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) e 49% não possuem indicadores e metas de redução de emissões e 88,6% não contam com plano de compensação. A principal estratégia de compensação ambiental para conservação está ligada ao plantio de árvores (75%).
Não há como refutar que a crise climática tem impacto nas operações das empresas, o que impele que enfrentem esse desafio mais cedo ou mais tarde. Nesse sentido, o ESG pode capacitar a organização para enfrentar as mudanças climáticas, se tornarem mais resilientes para enfrentar condições adversas do clima, que não ameaçam apenas a saúde humana, a biodiversidade e o meio ambiente.
É um risco cada vez mais efetivo porque gera também instabilidades econômicas. O ESG ajuda a fortalecer a resiliência climática para enfrentar os riscos climáticos sobre recursos naturais, infraestrutura, cadeias de suprimento e promoção de práticas mais sustentáveis.
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As pesquisas sobre práticas ESG nas corporações brasileiras são importantes porque nos permitem conhecer as estratégias corporativas diante de práticas sustentáveis, gestão de riscos, requisitos regulatórios, relacionamentos com stakeholders, respostas à crise climática.
Os dados da pesquisa revelam a percepção de respondentes, que são profissionais e lideranças de empresas de capital aberto e fechado de médio porte, de diversos setores da economia brasileira. Os resultados nos colocam frente à frente com dados que ajudam a definir o papel do ESG na estratégia corporativa e permitem antever o nível de resiliência e a competitividade das corporações diante dos desafios da sustentabilidade.