Polícia Federal já conduzia investigação sobre grandes depósitos de armas no Complexo do Alemão, mas decidiu não participar de megaoperação pois locais na mira da polícia carioca eram outros Rio de Janeiro, -agencia-cnn-, Comando Vermelho, Megaoperação, PF (Polícia Federal), Tráfico de armas, Violencia no Rio CNN Brasil
A decisão da PF (Polícia Federal) de ficar de fora da megaoperação que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro foi tomada por uma incongruência no planejamento da ação.
De acordo com apuração para a CNN Brasil, a PF tinha informações sobre a localização de paióis de armas produzidas em São Paulo que estão escondidas no Complexo do Alemão. No entanto, esses depósitos ficam em pontos diferentes daqueles que foram atacados durante a megaoperação das polícias do Rio de Janeiro.
Por conta disso, a PF entendeu que operação seria arriscada demais e não atacava o problema real da atuação da facção no local.
Entenda investigação da PF
A Superintendência da PF no Rio já vinha investigando os traficantes do CV (Comando Vermelho) nos complexos da Penha e do Alemão desde 2017, quando foram apreendidos mais de 60 fuzis durante uma operação no aeroporto Internacional do Galeão. O armamento havia sido enviado dos Estados Unidos e estava escondido em um carregamento de aquecedores de piscina.
Na época, a investigação da PF levou ao nome de Frederick Barbieri, um brasileiro nascido em Irajá, no subúrbio do Rio, mas que vivia em Miami na Flórida desde 2012. As investigações apontaram que ele tinha uma empresa de importação e exportação no nome dele e usava esse registro para enviar armas dos Estados Unidos para os traficantes do Rio.
Barbieri ganhou o apelido de “Senhor das Armas” e foi condenado em 2018 pela justiça americana como o chefe do esquema. Mas a prisão de Frederick Barbieri levou a polícia brasileira a uma investigação mais profunda sobre o tráfico de armas para a maior facção criminosa do Rio.
Os investigadores da PF descobriram que Barbieri trabalhava para outro traficante, de “patente” mais alta: o policial federal aposentado Josias João do Nascimento, preso em março desse ano durante a Operação Cash Courier, era quem comandava o envio de armas para o Brasil.
O armamento comprado em lojas americanas era despachado de avião e a maior parte chegava pelo terminal de cargas do Galeão, o maior aeroporto do Rio.
Segundo as investigações, o esquema organizado pelo “Senhor das Armas” e por Josias João do Nascimento traficou mais de dois mil fuzis para o Comando Vermelho por mais de 7 anos.
As investigações continuaram e levaram a Polícia Federal a desarticular uma quadrilha em Santa Barbara D’Oeste, no interior de São Paulo, que produzia, montava e vendia armas para os traficantes do Rio.
A fábrica tinha capacidade de produzir até 3,5 mil fuzis por ano para as facções do Rio, e 10 pessoas foram presas na ocasião. A ação foi um desdobramento de outra operação da PF, deflagrada em 2023.
Na época, os agentes prenderam o líder do esquema com 47 fuzis e desmontaram uma das fábricas clandestinas do tráfico em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais. Com isso, a Justiça Federal determinou o sequestro de R$ 40 milhões em bens e valores do crime organizado.
As investigações apontaram que, em dois anos, o crime organizado transferiu a produção de armas de Belo Horizonte para o interior de São Paulo com uma estrutura mais sofisticada e escondida por trás da fachada de uma empresa de peças aeronáuticas.
A fábrica de armas do tráfico funcionava por meio de usinagem, processo no qual o metal, matéria-prima usada na produção das armas, é esculpida para dar origem ao formato desejado. Assim, o armamento ficava mais “robusto e muito mais resistente”.
Segundo uma fonte da PF, parte dos componentes usados na produção dos fuzis era importado da China e dos Estados Unidos e entrava no Brasil pelo Paraguai ou pelos Correios.
Ainda conforme a fonte, as investigações sobre a fábrica de armas do tráfico no interior de São Paulo ajudou a polícia a entender o caminho das armas. “A maior parte dos fuzis produzidos em São Paulo ia para os traficantes do Complexo do Alemão, o que desmonta a tese de que todas as armas usadas pelo tráfico do Rio ainda são fabricadas fora do país”, diz o policial.
As investigações da Polícia Federal sobre o armamento dos traficantes caminharam paralelamente à investigação da Polícia Civil e da Polícia Militar do Rio sobre as ações da maior facção criminosa do estado no Alemão, e levaram a PF a diversos pontos onde as armas ficam escondidas no conjunto de favelas.
Os paióis de armas apontados pela investigação da Polícia Federal ficam em pontos diferentes daqueles que seriam atacados durante a operação das polícias do estado.
Risco elevado e sem avanço na investigação sobre líderes do esquema
De acordo com outra fonte do alto escalão da PF, esse foi o principal motivo para a Polícia Federal não fazer parte da megaoperação.
Essa semana, o diretor geral da PF, Andrei Rodrigues, confirmou que houve um contato prévio da inteligência da Polícia Militar do Rio de Janeiro com a unidade local da PF para avaliar uma possível participação na operação. “Após análise do planejamento operacional, a equipe da PF concluiu que a ação não se adequava ao modo de atuação da instituição”, afirmou aos jornalistas.
Diversas fontes ouvidas na PF foram unânimes em dizer que não fazia sentido “arriscar as vidas de policiais federais de uma polícia investigativa para trocar tiros com traficantes em locais distantes de onde apontavam as investigações da PF.”
Os agentes federais explicam que o modo de atuação da PF não é o combate direto, mas sim a investigação com precisão para enfraquecer o poder financeiro dos criminosos e prender pessoas estratégicas do crime organizado que possam trazer informações importantes sobre os cabeças do esquema.
Imagens mostram “zona de guerra” em megaoperação contra o CV no RJ

