Críticos apontam que medida está mais relacionada com política do que com economia ou interesses americanos Macroeconomia, CNN Brasil Money, Donald Trump, Economia americana, Javier Milei, Scott Bessent CNN Brasil
O governo Trump está resgatando a Argentina em uma medida que, segundo os críticos, tem mais a ver com política do que com economia ou interesses americanos.
Isso significa que US$ 20 bilhões dos contribuintes americanos serão usados para resgatar um país liderado por um aliado próximo do presidente Donald Trump: o libertário Javier Milei, que empunha uma motosserra.
Os dois homens se encontraram na terça-feira (14) na Casa Branca para uma reunião bilateral, onde a discussão incluiu o resgate extraordinário e as tarifas, disse Trump.
O resgate “realmente visa ajudar uma boa filosofia financeira” e “para que possamos ajudar nossos vizinhos”, disse Trump durante a reunião.
Enquanto isso, o governo federal dos EUA está se aproximando de duas semanas de paralisação e as empresas e indústrias dos EUA continuam a se recuperar da guerra comercial em curso de Trump.
Aqui estão alguns detalhes importantes sobre o extraordinário resgate financeiro da Argentina pelo governo norte-americano.
Qual é o problema?
A Argentina corre o risco de um colapso financeiro.
A moeda do país desvalorizou-se acentuadamente após o partido do presidente Milei sofrer uma derrota significativa nas eleições do mês passado. As perdas abalaram a confiança dos investidores na capacidade de Milei de implementar suas reformas econômicas.
Milei cortou gastos do governo, cortou regulamentações e demitiu dezenas de milhares de funcionários do setor público desde que assumiu o cargo em 2023. Seu governo obteve algum sucesso; a inflação na Argentina caiu este ano para o ritmo mensal mais lento em mais de quatro anos.
O governo Trump argumentou que a crise financeira da Argentina pode se espalhar para outras economias se não for contida rapidamente.
Autoridades do governo dizem que também veem um risco de a Argentina, uma grande economia da América do Sul, fortalecer seus laços com a China.
As próximas eleições legislativas na Argentina ocorrerão em 26 de outubro.
O que os EUA estão fazendo?
Na quinta-feira (9), Bessent confirmou nas redes sociais que o resgate da Argentina está avançando de duas maneiras principais.
Bessent disse que o governo finalizou um acordo de swap cambial de US$ 20 bilhões com o banco central da Argentina, permitindo a troca de sua moeda local pelo dólar americano.
É essencialmente um empréstimo de US$ 20 bilhões, dizem especialistas.
A principal autoridade econômica de Trump também afirmou que o governo comprou “diretamente” uma quantia não revelada de pesos argentinos. É apenas a quarta vez desde 1996 que os Estados Unidos compram moeda de outro país, de acordo com o Federal Reserve Bank de Nova York.
Essas medidas visam estabilizar os mercados financeiros da Argentina.
Por que isso é controverso?
Os Estados Unidos já forneceram ajuda financeira a países estrangeiros antes, geralmente quando a estabilidade da economia global está em risco ou quando um aliado geopolítico próximo, como o México, se encontra em dificuldades e pode causar danos aos credores e investidores dos EUA.
Mas esse resgate não é urgente, está acontecendo em um momento difícil, e os críticos estão acusando Trump de usar bilhões de dólares americanos apenas para apoiar um de seus aliados pessoais.
“A decisão do Tesouro de oferecer um ‘swap’ na Argentina é realmente um sinal de que Washington está disposto a usar suas ferramentas financeiras para fins políticos de maneiras que se afastam das normas passadas”, escreveram Heidi Crebo-Rediker, ex-economista-chefe do Departamento de Estado, e Douglas Rediker, ex-representante dos EUA no conselho executivo do FMI (Fundo Monetário Internacional), em uma coluna do Financial Times publicada em 2 de outubro.
Tudo isso enquanto o governo dos EUA está paralisado, o que resultou em mais de um milhão de funcionários federais sendo licenciados ou trabalhando sem remuneração.
“É inexplicável que o presidente Trump esteja apoiando um governo estrangeiro enquanto ele paralisa o nosso”, disse a senadora democrata Elizabeth Warren, de Massachusetts, em um comunicado na quinta-feira.
Enquanto isso, o resultado tem sido um golpe duplo contra os agricultores americanos, causado pelas próprias políticas de Trump. Os agricultores americanos estão tendo um ano difícil , em grande parte devido à tentativa de Trump de remodelar o comércio global. E o resgate da Argentina, inadvertidamente, piorou sua situação.
A China, grande compradora de soja dos EUA, suspendeu as compras da commodity em maio em resposta à guerra comercial de Trump. Então, depois que a Argentina suspendeu temporariamente os impostos de exportação de grãos, a China entrou em cena e comprou dezenas de milhares de libras de soja argentina.
“Por que os EUA ajudariam a socorrer a Argentina enquanto tomam o maior mercado dos produtores de soja americanos??? Deveríamos usar a influência a todo momento para ajudar a economia agrícola em dificuldades. Os agricultores familiares deveriam ser a principal preocupação dos representantes dos EUA nas negociações”, escreveu o senador republicano Chuck Grassley, de Iowa, no X em 25 de setembro.
Quem se beneficia?
Além de Milei, China e o tesouro argentino, os críticos dizem que o resgate também beneficiará muito os ricos gestores de fundos que são os principais detentores de dívidas e ativos argentinos.
O resgate representaria um grande ganho para Rob Citrone, um bilionário gestor de fundos de hedge com investimentos significativos na Argentina. “O relacionamento pessoal e profissional de Bessent com Citrone já dura décadas”, segundo o jornalista independente Judd Legum.
“Trump prometeu ‘América em Primeiro Lugar’, mas está colocando a si mesmo e seus amigos bilionários em primeiro lugar e cobrando dos americanos a conta”, disse Warren em um comunicado na quinta-feira. Oito democratas, incluindo Warren, apresentaram um projeto de lei no Congresso para impedir o resgate da Argentina.
Mas Bessent disse recentemente à CNBC que “essa história de que estamos ajudando os americanos ricos com juros lá não poderia ser mais falsa”.
“O que estamos fazendo é manter o interesse estratégico dos EUA no Hemisfério Ocidental”, acrescentou.
Traduzido por André Vasconcelos*
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