Ex-república soviética vive onda de manifestações depois que primeiro-ministro decidiu congelar negociações com União Europeia
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Manifestantes se reuniram na capital da Geórgia pela quarta noite consecutiva neste domingo (1º) para protestar contra a decisão do governo de suspender as negociações sobre a adesão à União Europeia.
Fora da capital, a agência de notícias georgiana Interpress disse que os manifestantes bloquearam uma estrada de acesso ao principal porto comercial do país, na cidade de Poti, no Mar Negro.
A mídia da ex-república soviética relatou protestos em pelo menos oito cidades e vilas.
O país de 3,7 milhões de habitantes tem visto meses de tensão crescente entre opositores e o partido governista Sonho Georgiano, que é acusado de seguir políticas cada vez mais autoritárias, antiocidentais e pró-Rússia.
A crise se aprofundou no dia 28 de novembro, quando o governo anunciou o congelamento das negociações com a UE por quatro anos.
Desde então, milhares de manifestantes pró-Europa têm saído às ruas de diferentes cidades e enfrentado a polícia, que tem dispersado os protestos com gás lacrimogêneo e canhões de água.
A União Europeia e os Estados Unidos estão alarmados com o que consideram ser o afastamento da Geórgia de um caminho pró-ocidental e o retorno à órbita da Rússia.
Já o partido Sonho Georgiano, que é pró-Rússia e governa o país, diz que está agindo para defender a soberania do país contra interferências externas.

“Abismo escuro”
A Rússia está acompanhando de perto os acontecimentos. O oficial de segurança Dmitry Medvedev, ex-presidente russo, disse que uma tentativa de revolução estava ocorrendo no país e escreveu no Telegram que a Geórgia está “se movendo rapidamente pelo caminho ucraniano, em direção ao abismo escuro”. Normalmente, esse tipo de coisa acaba muito mal”, afirmou.
O próprio Kremlin ainda não comentou os últimos acontecimentos na Geórgia, mas há muito tempo acusa os Estados Unidos e aliados europeus de fomentar revoluções em países pós-soviéticos que Moscou ainda considera como parte de sua esfera de influência.
O primeiro-ministro da Geórgia, Irakli Kobakhidze, rejeitou as críticas dos Estados Unidos, que condenaram o uso de “força excessiva” contra os manifestantes.
“Apesar da violência sistemática mais pesada aplicada por grupos violentos e seus instrutores estrangeiros, a polícia agiu em um padrão mais alto do que os americanos e europeus e protegeu com sucesso o Estado de outra tentativa de violar a ordem constitucional”, disse ele a jornalistas.
Kobakhidze também ignorou o anúncio feito por Washington no sábado de que estava suspendendo uma parceria estratégica com a Geórgia. Ele disse que se tratava de um “evento temporário”, e que a Geórgia conversará com o novo governo do presidente eleito Donald Trump quando o bilionário assumir o cargo em janeiro.

Oposição ao partido governista
Aprofundando a crise constitucional no país, a presidente afastada Salome Zourabichvili — uma crítica do governo e forte defensora da adesão da Geórgia à Uinião Europeia — disse no sábado (30) que se recusará a deixar o posto quando seu mandato terminar no final deste mês.
Zourabichvili disse que permanecerá no cargo porque o novo Parlamento – escolhido em outubro em eleições que, segundo a oposição, foram fraudadas – era ilegítimo e não tinha autoridade para nomear seu sucessor.
O primeiro-ministro disse que entende o “estado emocional” da presidente. “Mas é claro que em 29 de dezembro ela terá que deixar sua residência e entregar esse prédio a um presidente legitimamente eleito”, disse ele.
Centenas de diplomatas e funcionários públicos assinaram cartas abertas protestando contra a suspensão das negociações com a União Europeia.
O Ministério das Relações Exteriores da Geórgia afirmou em um comunicado que os países estrangeiros estão tentando “interferir no funcionamento das instituições de um Estado soberano” e que isso é inaceitável.
Futuro incerto
Durante a maior parte do período desde o colapso da União Soviética em 1991, a Geórgia se inclinou fortemente para o Ocidente e tentou afrouxar a influência da Rússia, para a qual perdeu uma breve guerra em 2008. A Otan prometeu uma eventual adesão do país à aliança e, no ano passado, a Geórgia se tornou candidata oficial à entrada na UE.
Críticos da Geórgia e governos europeus alegam que o partido governista Sonho Georgiano tem a intenção de abandonar esse caminho pró-europa. A legenda nega as acusações.
Em junho, a Geórgia promulgou uma lei que obriga as ONGs a se registrarem como “agentes estrangeiros” se receberem mais de 20% de seu financiamento do exterior. Em setembro, o Parlamento aprovou uma lei que restringe os direitos LGBT.
A nova chefe da política externa da União Europeia, Kaja Kallas, que assumiu o cargo neste domingo (1º), expressou solidariedade aos manifestantes. “Apoiamos o povo georgiano e sua escolha por um futuro europeu”, postou ela no X.
“Condenamos a violência contra os manifestantes e lamentamos os sinais do partido governista de não seguir o caminho da Geórgia para a UE e o retrocesso democrático do país. Isso terá consequências diretas do lado da UE.”
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