Declarações de aliado de Putin acontecem após o presidente dos EUA pressionar por um cessar-fogo na guerra da Ucrânia Internacional, Armas nucleares, Dmitry Medvedev, Donald Trump, EUA, Putin, Rússia, Submarino nuclear, Trump, Vladimir Putin CNN Brasil
Dmitry Medvedev percorreu um longo caminho desde que foi presidente da Rússia, quando chegou a declarar, ao lado do então presidente dos EUA, Barack Obama, que “a solução de muitos problemas mundiais depende da vontade conjunta dos Estados Unidos e da Rússia.”
Nesta semana, em seu papel semi-oficial de defensor do Kremlin, Medvedev sugeriu duas vezes que o governo do presidente Donald Trump estava empurrando os EUA e a Rússia para a guerra e alertou sobre as capacidades nucleares de Moscou, após o líder americano indicar que imporia novas sanções contra o país.
Embora Medvedev seja o vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, ele não detém poder executivo. Mas seus comentários provocativos ainda assim chamaram atenção.
Na quinta-feira (31), Medvedev escreveu no Telegram que Trump deveria imaginar a série apocalíptica “The Walking Dead” e fez referência à capacidade soviética de lançar ataques nucleares automáticos.
Na sexta-feira, o presidente dos EUA respondeu ordenando que dois submarinos nucleares fossem enviados para “regiões apropriadas”.
O embate ocorre após Trump estabelecer um novo prazo para que Putin encerre a guerra na Ucrânia, ameaçando impor sanções caso um cessar-fogo não seja alcançado.
De ex-presidente a provocador
Medvedev apresenta hoje uma imagem muito diferente da que tinha aos 42 anos, quando se tornou presidente da Rússia entre 2008 e 2012.
Formado em direito, sem vínculos com os serviços de segurança — ao contrário do atual presidente Vladimir Putin, que é ex-agente da KGB —, ele era familiarizado com a internet e mostrava-se disposto a modernizar a economia russa e combater a corrupção.
No entanto, sua presidência foi vista como um “mandato-tampão”, enquanto Putin contornava limites constitucionais para se manter o poder.
Desde que deixou a presidência em 2012 para permitir o retorno de Putin ao cargo, Medvedev se transformou de tecnocrata relativamente liberal em um ultranacionalista, provocando os adversários da Rússia com postagens incendiárias nas redes sociais.
Basta comparar o que ele disse à CNN em 2009 — que a Rússia precisava “ter boas e desenvolvidas relações com o Ocidente em todos os sentidos” — com esta declaração em maio: “Sobre as palavras de Trump dizendo que Putin está ‘brincando com fogo’ e que ‘coisas realmente ruins’ podem acontecer à Rússia. Eu só conheço uma coisa REALMENTE RUIM — a Terceira Guerra Mundial. Espero que Trump entenda isso!”
Postagens incendiárias
Essa mudança parece ter começado após sua presidência, quando Medvedev começou a se reposicionar para manter a confiança do partido governista Rússia Unida.
Como presidente, Medvedev disse à CNN que “o nível de corrupção é categoricamente inaceitável.” Mais tarde, como primeiro-ministro, foi alvo de uma investigação da Fundação Anticorrupção de Alexei Navalny, que o acusou de ter acumulado um “império da corrupção”, com propriedades luxuosas, iates e vinhedos por toda a Rússia.
A porta-voz de Medvedev, Natalya Timakova, descartou a investigação, que rapidamente alcançou 14 milhões de visualizações no YouTube — como um “surto propagandístico”, mas Medvedev virou alvo de protestos nas ruas.
Em 2020, ele renunciou abruptamente ao cargo de primeiro-ministro, enquanto Putin iniciava uma reforma constitucional para consolidar seu poder.
Desde então, de sua cadeira no Conselho de Segurança, Medvedev tem disparado uma série de ataques xenofóbicos e ofensivos contra ucranianos e líderes ocidentais. Ele tem 1,7 milhão de inscritos no Telegram e contas no X em russo e inglês com um total de quase 7 milhões de seguidores.
Em um discurso no início deste ano, Medvedev exibiu uma imagem retratando Trump e o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky como fantoches dos Muppets e pediu a “destruição do regime neonazista de Kiev”.
Ele frequentemente evoca o espectro do nazismo, dizendo este ano que o novo chanceler alemão, Friedrich Merz, havia “sugerido um ataque à ponte da Crimeia. Pense duas vezes, nazista!”
Papel calculado no Kremlin
Medvedev não hesita em chacoalhar o sabre nuclear. Em 2022, afirmou que “a ideia de punir um país que possui uma das maiores capacidades nucleares é absurda e potencialmente representa uma ameaça à existência da humanidade.”
Apesar da retórica extravagante, analistas dizem que Medvedev tem um papel calculado na estratégia de comunicação do Kremlin.
O Instituto para o Estudo da Guerra afirma que ele é usado para “amplificar retóricas inflamatórias projetadas para gerar pânico e medo entre os tomadores de decisão do Ocidente”, como parte de “uma estratégia informacional coordenada e vinda de cima para baixo”.
Mas comentaristas alertam que suas declarações não devem ser levadas ao pé da letra.
Referindo-se à troca de farpas desta semana, Anatol Lieven, do Quincy Institute for Responsible Statecraft, classificou tanto os comentários de Medvedev quanto a resposta de Trump como “puro teatro”.
“Tendo se abstido do uso de armas nucleares nos últimos três anos, a Rússia obviamente não irá lançá-las em resposta a uma nova rodada de sanções dos EUA”, disse Lieven.