Se carros seminovos pouco rodados são valorizados pelo mercado, imagine carros com 20 ou 30 anos de idade praticamente novos ou até zero-km. Pois eles existem e há quem seja especialista em encontrá-los. É o caso de Reginaldo R.G., 51 anos, mais conhecido nas redes como “Reginaldo de Campinas”.
Reginaldo caça essas raridades há 20 anos. Em seu currículo, tem feitos inacreditáveis como ter encontrado uma Ford F1000 1990 zero-km que ficou estacionada na mesma garagem por 33 anos e um VW Gol GTI com 2.500 km originais e imaculado, com plásticos nos bancos.
Dois Ford Escort XR3 também foram históricos. Um destes era um 1984, que poderia ter sido destruído pela queda de uma laje, sobre o qual falaremos mais adiante. O outro, um Escort Formula vermelho ano 1991 com apenas 110 km rodados.

Uma descoberta mais recente, feita em junho de 2024, foi de um Fiat Uno Mille 1991 zero-km. Este carro foi revendido por R$ 110.000 durante o Encontro de carros antigos de Águas de Lindóia do ano passado.
O faro de Reginaldo para encontrar carros assim vem de muito tempo.
“Desde os 14 anos eu buscava nas páginas de classificados dos jornais carros raros a pedidos de amigos e só aos 31 anos decidi me dedicar 100% a isso. Nos primeiros cinco anos pensei em desistir, pois era difícil lidar com a imprevisibilidade do negócio, mas assim que comecei a ficar conhecido tudo começou a dar certo”, conta Reginaldo, que atualmente tem quase 550.000 seguidores no Instagram e perto de meio milhão de inscritos no Youtube, com vídeos que ultrapassam 2 milhões de visualizações.
O empresário relata que teve que viajar muito, no início, para comprovar a raridade dos modelos. “Em 2012, fiz 43 voos pelo Brasil e foi nessa época que comecei a ficar mais conhecido. Era um momento que as pessoas ainda não estavam tão digitais e por isso que a minha presença era tão importante, mas era cansativo, porque muitas vezes a viagem era perdida”, diz.
Ele garante que, quando chegava para ver o carro, já percebia, de cara, características como uma pintura não original ou mesmo o volante e os botões já gastos, mesmo em carros com bom estado de conservação e até com baixa quilometragem – carros assim não interessam a ele.
“A quilometragem baixa é o principal indício que o carro é uma raridade, mas outros elementos são importantes como pintura original, que tem outro brilho, pneus originais (que mesmos vencidos têm muito valor) e todo o interior imaculado. Se tiver plástico no banco, então, é uma alegria só”, conta Reginaldo, que se especializou em modelos nacionais das décadas de 80 e 90.
Inclusive, ele alega que é um pouco mais fácil encontrar veículos pouco rodados da década de 80 por causa da hiperinflação da época.
“Comprar carro nos anos 80 era a maneira mais fácil de preservar o próprio dinheiro e alguns ficaram guardados em garagens e nunca foram revendidos”, diz.
Grandes resgates
Quando questionado sobre as melhores histórias de resgates de raridades, Reginaldo logo se lembra do Escort XR3 1984 com 955 km originais.
“Na época, em dezembro de 1984, o carro foi comprado e, em janeiro de 1985 seu dono foi passar férias no Pantanal Mato-Grossense, onde faleceu, vítima de afogamento, aos 34 anos. O irmão do falecido não permitiu a venda do carro. Passados 30 anos, o irmão veio a falecer, e o carro foi finalmente vendido”, conta.
Reginaldo registrou em vídeo o momento que “salvou” o XR3, pois a laje da garagem estava cedendo.
“Havia mais dois Escort ao lado e o XR3 estava com tanta poeira quanto os outros, mas logo identifiquei os pneus originais e quando abri o porta-malas me alegrei ao ver os plásticos nos bancos da frente”, conta Reginaldo, emocionado ao relembrar da história.

A paciência do Reginaldo de Campinas foi testada na compra de um Gol GTI 1993 com 2.500 km, em Belo Horizonte (MG). “Recebi uma ligação de um mecânico de BH dizendo que achava que era um GTI em uma garagem e que havia reconhecido o carro pela ponteira do escapamento, pois estava coberto”, conta.

“Peguei um voo e fiquei quatro dias na cidade, hospedado em um hotel. O dono estava decidido a vender, depois falou que ia pensar. Quando eu estava quase desistindo, fechamos negócio”, lembra.

O caçador de relíquias também destacou o caso da Ford F1000 1990 zero-km, que ficou guardada em uma mesma garagem em Itapetininga (SP) por 33 anos. Este seu vídeo tem quase 1,5 milhão de visualizações.
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Atualmente, Reginaldo mantém uma loja com as raridade em Campinas (SP) e já tem clientela cativa.
“Quando eu acho o carro, eu normalmente já sei até para qual cliente eu vou vender, pois já sei as preferências de cada um” conta o vendedor, que recebe diariamente ofertas de carros “raros” e admite não dar conta de tanta procura.

O empresário é questionado por muitos pela motivação do nome Reginaldo de Campinas para o seu negócio e ele justifica que, no meio do antigomobilismo, ficou conhecido assim e por isso preferiu manter o nome – e deu certo.
Para terminar a entrevista o perguntamos sobre qual o seu carro de uso e Reginaldo, orgulhoso, mostrou um Ford Focus 2010 com apenas 30.000 km originais.