Quase um mês após se retirar da Comissão de Infraestrutura do Senado em meio a um bate-boca com o senador Plínio Valério (PSDB-AM), a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, retornou ao Congresso para uma audiência na Comissão de Agricultura da Câmara nesta quarta-feira (2/7). A participação foi marcada por novos embates. Parlamentares criticaram a sua gestão à frente do ministério, e a ministra foi acusada pelo deputado Evair Vieira de Melo (PP-ES), autor do requerimento de convocação, de ser “adestrada”.
Ao longo da sessão, Marina disse ter sido “terrivelmente agredida”, reagiu a acusações de omissão e perseguição ao agronegócio e associou a alta de queimadas à ação de grupos criminosos.
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Entre as acusações, o deputado Vieira de Mello disse que Marina é “personagem do teatro da defesa ambiental brasileira” e age com a mesma tática das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e dos grupos terroristas palestino Hamas e libanês Hezbollah. O parlamentar também ironizou a capacidade técnica da ministra e a acusou de não conhecer o campo. O deputado Rodolfo Nogueira (PL/MS), presidente da comissão, disse que a condução do MMA por Marina “está deixando um rastro de destruição, insegurança jurídica e radicalismo ideológico” e acusou a ministra de mentir sobre as queimadas e tentar “jogar a culpa em São Pedro”.
A ministra reagiu às declarações com referências à religião. Ela disse que havia orado e pedido a Deus “muita calma e tranquilidade” para ir à Câmara depois do ocorrido no Senado e foi atendida. “Eu sabia que depois do que aconteceu na Câmara Alta deste País, aqueles que gostam de abrir a porteira para o negacionismo, para a destruição do meio ambiente, para o machismo, para o racismo, depois do que aconteceu ali, as pessoas iam achar muito normal fazer o que está acontecendo aqui no nível piorado, mas acho que Deus me ouviu e eu estou em paz”, afirmou. Ainda dizendo citar o apóstolo Paulo, Marina falou que “’é preferível sofrer injustiça do que praticar uma injustiça”.
Aumento das queimadas
A ministra começou sua fala dizendo que o aumento das queimadas no Brasil em 2024 foi resultado de uma combinação de fatores climáticos extremos e incêndios criminosos. Segundo o BD Queimadas, plataforma do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Brasil registrou 278.229 focos de incêndio em 2024. Número é um crescimento de 46% em relação a 2023, e o maior patamar desde 2010.
“Qualquer pessoa que não seja negacionista sabe que seca com baixa precipitação, altas temperaturas e perda de umidade potencializam os incêndios”, afirmou. Segundo ela, o fenômeno não se restringe ao Brasil e países como Canadá e Austrália também enfrentaram situações extremas. “Em 2023, 80% da perda de florestas no Canadá foi causada por incêndios. Isso é uma realidade global”, acrescentou.
Além das condições climáticas, Marina apontou que houve aumento significativo de queimadas criminosas. De acordo com a ministra, os inquéritos da Polícia Federal sobre incêndios dolosos triplicaram em 2024. “Tínhamos uma retroalimentação perversa: a seca extrema, os incêndios criminosos, os materiais a ponto de combustão”, afirmou.
Defensivos agrícolas
Parlamentares da oposição acusaram o ministério de atrasar propositalmente a análise de novos produtos. Marina negou que haja atraso proposital nas análises conduzidas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Segundo ela, a demora na liberação de defensivos agrícolas decorre de um critério técnico e rigoroso, e não de má vontade institucional.
“A maioria dos pedidos é para moléculas antigas, já banidas em outros países. O critério é proteger a saúde pública, o meio ambiente e também o próprio produtor rural”, disse. Ela também reafirmou que a regulamentação da nova Lei dos Agrotóxicos manterá a responsabilidade compartilhada entre os ministérios do Meio Ambiente, da Agricultura e da Saúde.
“O Ibama tem autonomia para fazer as análises. O critério não é protelar. É o critério de aquilo ser benéfico para a saúde pública, para o meio ambiente e para o próprio produtor rural”, disse. Marina também criticou a tentativa de concentrar as análises no Ministério da Agricultura, defendendo a atuação conjunta com Anvisa e Ibama: “E se amanhã houver um governo que queira passar por cima dos regramentos? É por isso que precisamos de instituições autônomas e processos virtuosos.”