Em julho de 2024, um apagão cibernético correu o mundo após uma falha no sistema de segurança do software da CrowdStrike, empresa norte-americana de tecnologia com operação global. O Brasil não ficou de fora dos efeitos, com paralisações em aeroportos e instabilidades em aplicativos de sistemas bancários. Apesar de não serem tão frequentes, acontecimentos extremos como esse provocam consequências importantes e deveriam servir de alerta sobre como a dependência de um único fornecedor estrangeiro pode gerar efeitos em cascata na economia.
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Outro exemplo são as sanções recentes impostas pelo governo dos Estados Unidos ao Brasil, que reacenderam o debate sobre a dependência tecnológica em relação a países do exterior. A preocupação se intensifica porque sanções e taxações impostas por potências estrangeiras podem afetar diretamente a continuidade de serviços, o acesso a tecnologias críticas e a operação de empresas brasileiras. Quando empresas nacionais dependem de insumos, plataformas ou infraestrutura tecnológica estrangeira, qualquer restrição comercial pode comprometer sua autonomia operacional.
Isso significa que decisões unilaterais de outros países têm o poder de limitar ou inviabilizar o funcionamento de serviços essenciais no Brasil, afetando setores estratégicos como finanças, saúde, transporte e segurança da informação. A soberania digital, portanto, fica fragilizada sempre que o país não tem alternativas locais para sustentar suas operações diante de pressões externas. A construção de mecanismos para garantir operações independentes é complexa, demorada e demanda engajamento de toda a sociedade, com engajamento do governo, do setor privado e da população.
Entre os principais riscos está a vulnerabilidade estratégica. Em cibersegurança, por exemplo, depender de tecnologia estrangeira significa abrir mão do controle total sobre a infraestrutura que protege dados sensíveis do setor público e privado. Isso nos deixa sujeitos a interrupções de serviço, seja por falhas técnicas ou por decisões geopolíticas, como nos casos mencionados. Além disso, há o risco de espionagem e a limitação na resposta a ataques quando as decisões críticas ocorrem fora do país.
A soberania digital só será possível quando o Brasil deixar de ser majoritariamente consumidor de tecnologias globais e passar a investir com consistência em políticas públicas, educação tecnológica, infraestrutura própria e fomento à inovação local, como ocorre em iniciativas como o Governo Digital e Nuvem do Governo.
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São necessárias políticas públicas para incentivar o desenvolvimento de soluções nacionais, investimento em capacitação e infraestrutura própria, estímulo a parcerias internacionais fora do espectro das big techs e exigência de requisitos de soberania no acesso, manutenção e atualização de sistemas críticos. O setor privado precisa investir em pesquisa e desenvolvimento local e, principalmente, formar parcerias para criar um ecossistema tecnológico robusto. E o mercado deve valorizar e confiar nas soluções brasileiras, que hoje já competem em qualidade e segurança com as estrangeiras. É um esforço conjunto para construir nossa soberania digital.

