O nome Bolsonaro concentra, já no primeiro turno, ao menos 20% das intenções de voto, segundo diversos levantamentos — incluindo pesquisas internas do PL, partido que abriga a família do ex-presidente Jair Bolsonaro. Esse percentual, equivalente a um quinto do eleitorado, evidencia a resiliência e a força do seu branding político no cenário eleitoral.
Dados de diversos levantamentos de intenção de voto sugerem que a manutenção desse percentual poderia levar a eleição de 2026 a um cenário tripolar. Em tal situação, um nome alternativo da oposição teria pouca margem de competitividade caso Bolsonaro decidisse lançar um candidato da própria família, em uma tentativa de preservar seu legado e mostrar força, fragmentando ainda mais o campo oposicionista no primeiro turno.
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Em resumo, os números mostram que o bolsonarismo segue funcionando como barreira de entrada para outros nomes da oposição e como ponto de partida competitivo num ainda distante segundo turno. Além disso, garante ao ex-presidente — ou a quem ele vier a apoiar — protagonismo imediato na corrida sucessória e influência na costura de alianças, com poder de moldar tanto a configuração ideológica quanto o nome que representará a oposição na fase final da disputa.
Jair Bolsonaro sairá da inércia para impulsionar um novo nome, ou insistirá em preservar sua fatia de poder? Até aqui, os sinais não estão evidentes sobre qual caminho o ex-presidente pretende seguir e o martelo não está batido e nem será no curto prazo.
Na política, decisões desse tipo costumam ser empurradas até o limite do prazo — e só são tomadas quando se tornam inevitáveis. Para Bolsonaro, o melhor movimento pode ser justamente não se mover. Manter-se parado, enquanto os adversários se apressam e revelam suas cartas antes da hora — e seguem se movendo sob sua sombra.
Diagnóstico
O bolsonarismo segue com uma base sólida e fiel, capaz de garantir cerca de 20% a 30% do eleitorado no primeiro turno, o que representa um piso alto. No entanto, os dados também expõem um teto limitado para a maioria dos nomes da família Bolsonaro, com exceção de Jair e Michelle, os únicos que conseguem ultrapassar a marca de 30% de apoio, mesmo em cenários fragmentados.
Esse desempenho se explica por uma combinação de fatores: o núcleo duro bolsonarista, que permanece coeso, e a capacidade de alguns nomes específicos — como Michelle — de ampliar essa base, especialmente junto a públicos-chave como evangélicos e mulheres. Ainda assim, a dificuldade em romper esse teto evidencia que, apesar da força da marca, o bolsonarismo sem Jair enfrenta limites claros para crescer, sobretudo em um cenário de fragmentação dentro da própria direita.
Mesmo com vários nomes competitivos na direita, todos ainda dependem do posicionamento do ex-presidente. Qualquer um que queira chegar ao segundo turno em 2026 não poderá prescindir do apoio de Jair Bolsonaro, que manterá influência decisiva sobre a dinâmica eleitoral, mesmo em condições adversas.
Pode-se criticar, temer ou tentar contornar o bolsonarismo — mas não dá para ignorar que pelo menos um quinto dos eleitores permanece firmemente ancorado nessa identidade política. Por isso, a forma como o ex-presidente vai se posicionar será determinante. Se ele insistir na candidatura até os últimos dias e só recuar em favor de um dos filhos às vésperas da eleição, o cenário será um.
Se, ao contrário, decidir abrir mão com antecedência — por exemplo, até abril de 2026 — e transferir seu apoio a um nome em ascensão na oposição, como Tarcísio de Freitas, o cenário será outro.
Nas últimas semanas, Bolsonaro tem reiterado a importância de conquistar a maioria no Senado e na Câmara como forma de assegurar o controle do Congresso. Em certos momentos, seu foco parece mais voltado a formar essa maioria no Legislativo do que a eleger o próximo presidente da República. A lógica atende à estratégia do centrão, que enxerga mais ganho político em Bolsonaro reforçando as bancadas, sobretudo no Nordeste, do que disputando protagonismo na corrida presidencial dentro do seu campo.
Apoio envergonhado
O desafio para Tarcísio é que apenas o aval de Bolsonaro, por si só, não basta. Na prática, o governador de São Paulo só será candidato com o apoio explícito do ex-presidente — sem isso, ele simplesmente não existe como opção nacional. Mas com o apoio, vem o custo: Tarcísio será cobrado a adotar um discurso mais fiel ao bolsonarismo do que demonstrou até agora, o que pode comprometer seu alter ego de gestor moderado, um dos atributos que o torna mais competitivo aos olhos da elite econômica do país. Caso contrário, corre o risco de enfrentar o mesmo desgaste que atingiu o prefeito Ricardo Nunes, sabotado pelo próprio Bolsonaro e seu entorno por não representar o radicalismo desejado.
O ruído provocado pelo enfraquecimento do prefeito deu brecha para a ascensão de Pablo Marçal, fragmentando a base conservadora e desafiando a autoridade de Bolsonaro e de seus filhos, antes vistos como figuras imbatíveis da direita.
Fazendo as contas
O eleitorado segue dividido, como em 2022, e quem deve decidir em 2026 é de novo um grupo muito pequeno — algo entre 3 milhões e 6 milhões de eleitores. Esse grupo não tem fidelidade ideológica, mas rejeições muito bem definidas.
Em 2022, esse grupo votou em Lula como antídoto a Bolsonaro. Agora, com o presidente petista desgastado e sem sinais de recuperação na popularidade, abre-se uma janela de oportunidade para um nome competitivo que não carregue o peso do sobrenome Bolsonaro — e que consiga conquistar esse voto volátil, movido mais por rejeição do que por fidelidade ideológica.
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Na eleição passada, o JOTA PRO conduziu um painel com cerca de 5.000 eleitores ao longo do ano eleitoral, acompanhando as transferências de voto entre candidatos menos competitivos e os polos da polarização, Lula e Bolsonaro. O objetivo era construir uma matriz de transição de preferências capaz de antecipar o resultado da disputa mais acirrada da história.
O que se observou é que cerca de 10% dos eleitores decisivos naquela eleição eram mais voláteis — muitos oscilavam entre o apoio a Lula, mas a maioria se declarava indecisa ou integrava o eleitorado da chamada terceira via, que foi gradualmente esvaziado ainda no primeiro turno. Grande parte desse grupo acabou migrando para Lula, Bolsonaro ou permaneceu indecisa até a última hora, reforçando a lógica de polarização que dominou a disputa.
Os dados da votação indicam que, mesmo entre os eleitores que votaram nulo no primeiro turno, muitos acabaram escolhendo um lado no segundo turno, dividindo-se entre Lula e Bolsonaro. Esse movimento foi decisivo para o desfecho da eleição, garantindo a pequena vantagem de pouco mais de 2,1 milhões de votos que deu a vitória a Lula.