Trabalhadores do esquema de fraudes são mantidos contra vontade e forçados a executar atividades ilegais on-line
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A Tailândia cortou o fornecimento de eletricidade na quarta-feira (5) para várias áreas na vizinha Mianmar que abrigam sites dentro de indústria global de golpes on-line equivalente a bilhões de dólares.
Na tarde de quarta-feira (5), pelo menos um dos complexos fraudulentos ainda estava operando, segundo uma ONG em contato com trabalhadores.
No entanto, não está claro se os cortes impactaram outras operações de sites de golpes na área.
Fábricas de golpes on-line — muitas administradas por sindicatos do crime chineses — se multiplicaram em Mianmar, que foi devastado por uma sangrenta guerra civil desde que os militares tomaram o poder em 2021.
Frequentemente atraídos pela promessa de empregos bem pagos ou outras oportunidades atraentes, os trabalhadores são rotineiramente mantidos contra sua vontade e forçados a executar esquemas de fraude on-line em compostos fortemente protegidos, onde ex-detentos dizem que espancamentos e torturas são comuns.
Na quarta-feira (5), o Ministro do Interior da Tailândia, Anutin Charnvirakul, visitou uma estação de controle na rede elétrica nacional enquanto a equipe desligava o fornecimento de cinco locais na fronteira, em um evento transmitido ao vivo pela televisão.
A Tailândia “interrompeu o fornecimento de eletricidade para Mianmar em cinco locais com base na decisão do Conselho de Segurança Nacional”, ele falou aos repórteres.
“O fornecimento de eletricidade não está sendo interrompido porque as empresas violaram o contrato, mas porque a eletricidade está sendo mal utilizada para golpes, drogas e call centers”, acrescentou.
Um desses locais era na cidade de Myawaddy, às margens de um rio que divide a Tailândia de Mianmar, e perto de alguns dos maiores complexos de golpes que as ONGs dizem abrigar milhares de trabalhadores.
Vários dos complexos ficam perto da fronteira, onde eles podem se aproveitar dos serviços de eletricidade e telecomunicações mais confiáveis da Tailândia.
O foco renovado nos sites veio no mês passado quando um ator chinês, que voou para Bangkok para o que ele pensava ser uma chamada de elenco de filme, foi pego no aeroporto e levado através da fronteira para Mianmar, sendo forçado a trabalhar em um centro de golpes lá.
Os compostos de golpes operam há anos, protegidos pela corrupção e ilegalidade que há muito saturam as regiões de fronteira de Mianmar — e só pioraram após anos de guerra civil devastadora.
Mas a Tailândia tem sofrido pressão crescente para ajudar a conter a atividade criminosa e realizou uma série de reuniões de alto nível recentemente que sugerem que autoridades em Mianmar, Tailândia e China podem tomar medidas mais fortes para reprimir os sindicatos.
A primeira-ministra da Tailândia, Paetongtarn Shinawatra, está atualmente visitando Pequim, onde se encontrará com o líder chinês Xi Jinping.
O Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, disse na quarta-feira (5) um briefing diário, que Pequim estava “muito preocupada” com os incidentes recentes envolvendo golpistas online “na fronteira Tailândia-Mianmar”.
Os complexos de golpes funcionam muito como cidades pequenas, com restaurantes, supermercados e até creches, segundo ex-funcionários entrevistados anteriormente pela CNN.
Além das operações de golpes, os locais também fornecem imóveis para jogos de azar e prostituição.
Myawaddy sozinha abriga cerca de 6.500 vítimas de 23 países mantidas sob coação em complexos de golpes, incluindo cerca de 4.500 cidadãos chineses, de acordo com uma estimativa da Civil Society Network for Victim Assistance in Human Trafficking, uma ONG tailandesa que luta contra o tráfico de pessoas.
A Tailândia já cortou anteriormente o fornecimento de eletricidade para locais de golpes perto de sua fronteira com Mianmar nos últimos anos.
No entanto, não está claro se esses cortes anteriores tiveram algum impacto nas operações.
No caso de haver cortes de eletricidade, os chefes dos complexos poderiam mudar para geradores a diesel para energia e o Starlink de Elon Musk — que é usado em outras partes de Mianmar por vários grupos étnicos rebeldes — para conectividade com a internet.
‘Hoje à noite vocês verão as luzes’
Os cortes da Tailândia na quarta-feira (5) também atingiram a passagem de Three Pagodas Pass de Mianmar, que liga o sudeste do país e o oeste da Tailândia, gerando inquietações entre os moradores locais que se preocupavam com a forma como lidariam com a situação.
“Para os empresários, eles têm dinheiro para comprar geradores de eletricidade e trabalhar para seus negócios”, relatou um morador à CNN. “Mas, para nós, moradores pobres, não temos dinheiro para comprar geradores.”
Um morador de Mae Sot, na Tailândia, que fica do outro lado do rio de Myawaddy, em Mianmar, disse que duvidava que os cortes de energia parassem os centros de golpes.
“Hoje à noite vocês verão as luzes acesas em Shwe Kokko”, falou ele, referindo-se a um complexo notório visível do outro lado da fronteira.
O sequestro do ator chinês Wang Xing trouxe um foco renovado aos golpes. Poucos dias depois de ele ter sido dado como desaparecido em Mae Sot, a polícia tailandesa afirmou que o localizou em Myawaddy e o trouxe de volta para a Tailândia.
Seu subsequente retorno seguro à China estimulou centenas de famílias chinesas a pedir ajuda ao governo para encontrar e libertar seus entes queridos, que eles acreditam ainda estarem presos nos centros de golpes.
Alguns estão desaparecidos há meses ou até anos, segundo as famílias.
Mais de quatro anos após o golpe, o exército de Mianmar continua a lutar em várias frentes pelo país contra poderosas milícias étnicas armadas para manter o poder.
Mais de 5 mil civis foram mortos e 3,3 milhões de pessoas deslocadas pelos combates, segundo um relatório das Nações Unidas em setembro passado.
Em meio à turbulência política, Mianmar se tornou um ponto crítico de golpes cibernéticos, onde fraudes, crimes online, tráfico de pessoas, lavagem de dinheiro e corrupção floresceram, muitas vezes com o consentimento tácito da junta, afirmam os especialistas.
A China trabalhou anteriormente com autoridades em Mianmar para reprimir centros de golpes no norte do estado de Shan, perto da fronteira chinesa.
Em 2023, conforme grupos étnicos rebeldes ganhavam terreno contra a junta, famílias poderosas de senhores da guerra — apoiadas pelos militares para governar a região e supervisionar essas operações fraudulentas — foram apreendidas e entregues à polícia chinesa.
Autoridades chinesas dizem que mais de 53 mil “suspeitos” chineses — incluindo vítimas de tráfico — foram enviados de volta para a China a partir de complexos fraudulentos no norte de Myanmar.
Mas muitos centros de golpes se mudaram mais para o sul de Mianmar, incluindo Myawaddy, segundo ONGs e especialistas que há muito tempo rastreiam essas operações criminosas.
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