A ideia da inevitabilidade da candidatura de Tarcísio de Freitas à Presidência da República perdeu força nos últimos dias, com movimentos que indicam que o governador de São Paulo quer, ao menos, evitar desgastes reais e imediatos de uma possibilidade futura.
A pisada no freio coincide com uma ofensiva dos Bolsonaros para se mostrarem unidos e reafirmarem o controle do ex-presidente sobre a escolha do candidato da direita em 2026.
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Para Tarcísio, o sinal de alerta acendeu quando seus bem coreografados movimentos de negação pública e articulação privada de um caminho para o Planalto foram expostos pela indiscrição de aliados em SP. Atiçados pela perspectiva de vacância no governo do estado, o prefeito da capital, o presidente da Assembleia e os secretários de Governo e Segurança agiram para se consolidarem desde já como alternativas.
Com tantas peças se movendo, as tensões eram inevitáveis. E Tarcísio, que governou até aqui com a tranquilidade de ter uma oposição sem votos nem para obstruir votações, viu o risco de racha em sua base.
Os sinais também apareceram nas pesquisas, com um aumento da desaprovação do governo do estado, o que pode ser explicado, em parte, pela rejeição de eleitores mais à esquerda, que passaram a vê-lo como rival de Lula.
Para retomar o controle da narrativa, o governador primeiro agiu dentro de casa. Deu a ordem para secretários focarem na gestão e comunicou a eles ser candidato à reeleição. O prefeito Ricardo Nunes, que disse mais de uma vez dever grande parte de sua vitória em 2024 ao governador, mostrou entender o recado e disse não almejar o Palácio dos Bandeirantes e apoiar a recondução de Tarcísio.
O recuo pode ser tático, mas abala certezas de quem já via o governador de São Paulo como o nome mais realista para liderar a direita em 2026. E acontece enquanto Jair Bolsonaro reafirma a própria liderança e mostra que não haverá alternativa à sua tutela para quem quiser o voto de seus seguidores mais fiéis.
O abraço de Michelle e Carlos Bolsonaro no palanque da Paulista em que governadores da direita buscavam apelar aos defensores da anistia foi seguido por aparições antes raras da ex-primeira-dama nos perfis do marido, controlados pelo “filho 02”. O próprio crescimento da pauta da anistia no Congresso, mesmo que sem mudar a expectativa de inelegibilidade do ex-presidente, mostrou que ele ainda consegue manejar o arsenal das redes e ruas para interferir diretamente na política.
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Nesse contexto, o governador de SP também se protege agora de artilharia da direita ao esconder suas cartas. E percebe que, mantidas as condições, teria de pagar um tributo alto ao padrinho político para tentar chegar à Presidência já no ano que vem.
A visão do Planalto
Setores do governo avaliam que um Tarcísio nessa posição até seria um candidato mais fácil de ser batido do que o atual senso comum faz crer. A visão é que ele não só terá dificuldade de ser conhecido e empolgar nacionalmente como também não conseguiria escapar do carimbo de ser um personagem bolsonarista. E sem atrair, de fato, as forças políticas de centro.
Esse problema de identidade seria, na leitura desses setores do governo, uma amarra em toda uma eventual campanha de Tarcísio ao Planalto. Ele teria que manter um jogo de moderação e radicalização em todo o período, em uma difícil engenharia de atração do centro sem descontentar a claque bolsonarista.
A estratégia do petismo para enfrentar Tarcísio já tem sido aplicada, ainda que discretamente. Não é incomum que representantes da esquerda reforcem o vínculo direto do governador com Bolsonaro e explorem a proximidade entre os dois, questionando a tese de que Tarcísio seria um representante da direita mais moderada.
Isso tende a se intensificar em caso de candidatura à Presidência e ajuda a entender porque o governador quer esfriar as especulações em torno do seu nome. E ganhar tempo, seja para 2026, caso esteja forte no começo do ano, seja para quatro anos depois, sem Lula e, quem sabe, com maior independência em relação a Bolsonaro.