Economista do sistema de gestão voltado a PMEs avalia que cenário atual já é desafiador, “diante do elevado patamar das taxas de juros e do aumento das pressões de custos observado desde meados de 2024” Negócios, CNN Brasil Money, PME (Pequenas e Médias Empresas), tarifaço de Trump CNN Brasil
O anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre uma alíquota de importação de 50% para todos produtos brasileiros acendeu um alerta para os pequenos negócios do Brasil, especialmente em São Paulo, onde a concentração de indústrias é maior.
A medida entra em vigor no dia 1º de agosto, mas os reflexos já começaram a aparecer nas pontas mais sensíveis da cadeia econômica.
O economista Felipe Beraldi, especialista em indicadores da Omie, avalia que o cenário atual já é desafiador, “diante do elevado patamar das taxas de juros e do aumento das pressões de custos observado desde meados de 2024”. Com o tarifaço, a perspectiva é de agravamento.
“Sob a perspectiva das PMEs, a elevação abrupta das tarifas de importação nos EUA impacta diretamente as empresas brasileiras que exportam para aquele mercado ou que mantêm relações com grandes exportadores”, comenta.
Empresas que dependem de insumos importados ou mantinham planos de expansão para o mercado norte-americano estão revendo estratégias e enfrentando incertezas. É o caso de Pequenas e Médias Empresas que atuam em nichos como o de alimentos artesanais e redes de compras industriais.
A Strati Gelato, por exemplo, utiliza pistache californiano na produção de seus sorvetes e já projeta aumento nos custos.
“Seremos, sim, afetados, primeiramente como um todo, já que o nosso produto não é essencial. Só que piora, pois usamos pistache do tipo Califórnia e estamos com medo de outras consequências que façam o preço subir ainda mais. O lado do empreendedor só fica cada dia mais difícil, margens mais apertadas”, afirma a sócia Thereza Cristina.
Lucas Silva, responsável pela Rede de Compras, que intermedia negociações entre pequenas indústrias e fornecedores, também aponta mudanças.
“Tivemos impactos, mas ainda estamos avaliando se foram negativos. Algumas negociações com fornecedores na China estão mudando justamente por esse processo do tarifaço. Por outro lado, tivemos que suspender investimentos que faríamos na expansão das nossas atividades para os EUA, que estavam programadas”, destacou Lucas.
Pressão externa e instabilidade interna
Quanto ao cenário externo, o novo pacote tarifário do presidente norte-americano adiciona mais um fator de pressão. A medida, que prevê tarifas de 50%, representa um risco concreto para o desempenho econômico do país e, sobretudo, para as PMEs com presença direta ou indireta no mercado americano.
A depender da velocidade de implementação da tarifa, empresas que exportam diretamente para os EUA ou que integram cadeias produtivas ligadas ao comércio bilateral poderão ver seus planos comprometidos.
Beraldi ressalta que, “diante de uma possível retaliação do governo brasileiro, também poderão ser afetadas empresas que dependem de matérias-primas fornecidas por parceiros norte-americanos”.
“Não se pode deixar de mencionar o efeito macroeconômico negativo geral desse tipo de medida, que tende a resultar em maior desvalorização do real e aumento das pressões inflacionárias, afetando especialmente as PMEs”, finalizou.
Custos em alta e incertezas
“Para 2026, ainda que se espere algum alívio, o impacto sobre a atividade econômica tende a se dar principalmente por meio do canal das expectativas, com o início de um ciclo gradual de redução da Selic — que, ainda assim, deve permanecer em níveis historicamente elevados (com projeção de 12,5% ao ano ao final de 2026). Esse contexto deve manter o processo de desaceleração da economia, com um crescimento mais contido do PIB no biênio 2025-2026”, avalia Beraldi.
“Enxergamos riscos elevados e assimétricos para baixo, por duas razões principais. No âmbito doméstico, a evolução das discussões fiscais em um contexto eleitoral tende a ser complexa e incerta. No cenário externo, a possível efetivação do aumento de tarifas sobre produtos brasileiros nos Estados Unidos — um dos principais parceiros comerciais do país — pode ter impactos relevantes sobre a economia doméstica já no curto prazo”, finaliza o economista.
Ainda de acordo com Beraldi, o mercado projeta uma desaceleração da economia brasileira entre 2025 e 2026, em comparação com o crescimento médio observado no período pós-pandemia (2022–2024).
“O PIB deve crescer 2,2% em 2025 e 1,9% em 2026 — patamares significativamente inferiores à média de 3,2% ao ano registrada entre 2022 e 2024”, acrescentou o economista, com base no Boletim Focus do Banco Central.
Desempenho das PMEs
Segundo Beraldi, esse cenário econômico adverso “também tende a se refletir no desempenho das PMEs, para as quais se espera uma evolução mais modesta no curto e médio prazo em relação aos últimos anos”.
De acordo com dados atualizados do IODE-PMEs (Índice de Desempenho Econômico das PMEs), a expectativa de avanço para 2025 foi revista para baixo: +1,3% para +1,0% frente a 2024. “A revisão reflete a retomada mais lenta do que o esperado após um primeiro trimestre marcado por retração nas atividades”, disse Beraldi.
Para 2026, a projeção aponta um crescimento de 1,9% em relação ao ano anterior, “projeção bastante alinhada com a perspectiva do mercado para o PIB geral”.
Apesar da desaceleração, a principal âncora para a sustentação da atividade entre as PMEs continua sendo o consumo das famílias — impulsionado pelo aumento da renda real, em função da expansão dos rendimentos do trabalho e da recuperação gradual do mercado de trabalho. Esse movimento deve garantir um fôlego parcial para o setor, mesmo diante de um ambiente mais desafiador.
Já no campo monetário, há a expectativa de algum alívio a partir de 2026, com a possibilidade de início de um ciclo de cortes na taxa Selic no primeiro trimestre do ano. Ainda assim, os juros devem continuar em níveis elevados, com projeções apontando para 12,5% ao ano no encerramento de 2026. O mesmo vale para a inflação, que tende a se aproximar do teto da meta, mas sem apresentar recuos expressivos no curto prazo.
“De toda forma, como mencionado, o cenário contém um grau elevado de incertezas“, enfatizou o economista.
Como a economia brasileira deve ser afetada com o tarifaço de Trump?

