Hussein Kalout vê estratégia “inconsequente e irresponsável”; Christopher Garman aponta para “tiro no pé” eleitoral Política, Bolsonaro, CNN Brasil Money, Donald Trump, Estados Unidos, Tarifas, William Waack CNN Brasil
Analistas políticos levantaram o cenário de que o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) poderia buscar se aproveitar de sua proximidade com a direita norte-americana para levar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a recuar da tarifa de 50% imposta ao Brasil.
Se de fato a “guerra comercial artificial” for a estratégia do clã Bolsonaro, ela seria “absolutamente inconsequente e irresponsável”, de acordo com Hussein Kalout, cientista político e pesquisador de Harvard, que foi secretário especial de Assuntos Estratégicos da presidência da República.
“Os Bolsonaros estão dispostos a criar uma guerra comercial artificial para depois conquistarem, no rol do Olimpo, a posição de herois nacionais por terem salvado a economia brasileira, isso depois de terem causado um mega caos de instabilidade econômica no país e um pânico no setor empresarial”, avaliou Kalout ao WW desta quarta-feira (9).
“Prejudicar vários empresários, o sistema financeiro e os investidores para depois se apresentarem como salvadores é inconsequente”, resumiu.
O filho 03 do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) está nos Estados Unidos desde março.
O parlamentar afastado se diz um exilado político e busca costurar com a direita norte-americana sanções contra o STF (Supremo Tribunal Federal) por conta do julgamento da suposta trama golpista que teria tentando impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em carta postada nesta quarta no Truth Social, e endereçada ao petista, Trump criticou o Judiciário e Executivo brasileiros pela postura adotada com o antigo mandatário.
“A carta de Trump servirá no futuro como modelo de como um presidente não deve escrever uma carta para outro chefe de Estado”, pontuou Kalout.
Impacto eleitoral
Christopher Garman, diretor-executivo para as Américas do grupo Eurasia, afirmou que o movimento de Trump pode ressoar no desempenho tanto da esquerda como da direita nas próximas eleições.
“Se a tese [de intervenção do clâ Bolsonaro] prevalecer, pode ser um tiro no pé eleitoralmente porque daria uma bandeira para o Lula de defender a nação de uma ameaça externa. A minha percepção é de que a medida saiu mais forte do que [os Bolsonaro] estavam imaginando”, afirmou o especialista.
Para Garman, o Palácio do Planalto se depara agora com uma oportunidade política de se beneficiar com o eleitorado, em meio à recente perda de popularidade da atual gestão.
A postura de não se curvar a uma medida punitiva e associar a família Bolsonaro a um governo que prejudica o país pode gerar um efeito nacionalista que integre o brasileiro, causando o mesmo sentimento que levou o Partido Liberal do Canadá e a atual presidente do México Claudia Sheinbaum à vitória, segundo o diretor da Eurasia.
O especialista reconhece, porém, que as realidades canadense e mexicana são muito mais dependentes dos EUA, o que gerou um impulso maior aos candidatos que apresentaram uma postura firme contra Trump.
“Não sei se dura, mas contribui para uma recuperação modesta”, concluiu.
Tarifas “recíprocas” de Trump não são o que parecem; entenda

