Estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas foi socorrido, mas não resistiu após ser baleado em novembro do ano passado, na zona Sul de São Paulo São Paulo, -agencia-cnn-, Estudante, PM (Polícia Militar), São Paulo (estado) CNN Brasil
A CNN teve acesso às imagens das câmeras corporais dos policiais envolvidos na morte do estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas, em novembro do ano passado, na zona Sul de São Paulo. Em uma das filmagens, um dos bombeiros que atendeu o jovem após ele ser baleado aparece dizendo aos colegas da corporação que o estudante teria que “sofrer mesmo”.
Na gravação, os bombeiros aparecem conversando a respeito do atendimento do jovem e comentam sobre a falta de um equipamento de tomografia na emergência. “Falaram que está sem tomografia e não tem como localizar nada. Vai ser na mão mesmo. Eles estavam mexendo nele lá”, disse um dos bombeiros.
Logo em seguida, o colega responde: “Tem que sofrer mesmo, pô”, momento em que o primeiro bombeiro começa a rir da situação.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo afirmou que “os diálogos descritos não representam o posicionamento institucional do Corpo de Bombeiros, tampouco condizem com as diretrizes e protocolos adotados pela Instituição.”
Versões do policial
Em um dos vídeos das câmeras corporais, Guilherme aparece contando uma primeira versão à outra policial e afirma que teria sido encurralado por Marco. “Ele veio para cima, deu um tapa na viatura e eu sai correndo atrás dele. Ali ele encurralou a gente, ele veio e o Prado foi pra cima dele e derrubou o Prado, e nisso ele veio pra cima de mim e eu efetuei o disparo. Quando eu efetuei o disparo, ele parou”, explicou o PM.
No entanto, em uma segunda versão apresentada pelo policial, ele relatou que já conhecia o estudante quando o abordou, além de ter omitido as ameaças e os xingamentos que teria dito ao jovem.
Já em um terceiro relato, Guilherme apontou que, entre a queda do colega de trabalho e o tiro em Marco Aurélio, ele teria tentado conter o estudante “de outra maneira”, mas que a tentativa não funcionou. A versão contada pelo PM, no entanto, não condiz com as imagens das câmeras de segurança do hotel, que mostram que o jovem não tentou pegar o revólver do policial.
Em janeiro deste ano, a Polícia Civil de São Paulo pediu a prisão preventiva de Guilherme, soldado da Polícia Militar que atirou no estudante no momento da abordagem. No entanto, dias depois, a Justiça de São Paulo negou a solicitação.
Relembre o caso
Segundo o boletim de ocorrência obtido pela CNN, os policiais atenderam uma chamada no local e relataram que Marco Aurélio, conhecido como “Bilau”, estava “bastante alterado, agressivo, e resistiu à abordagem policial, entrando em vias de fato com a equipe.”
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Durante o confronto, ainda segundo o documento, Marco teria tentado pegar a arma de um dos policiais. O soldado, então, disparou contra o estudante, que foi socorrido ao Hospital Ipiranga, mas não resistiu aos ferimentos. Os policiais foram afastados de suas funções.
Em agosto deste ano, a Justiça de São Paulo negou o pedido de medida protetiva contra o pai do estudante. Os policiais Bruno e Guilherme haviam pedido medidas cautelares contra o pai da vítima, Julio Navarro, o acusando de agressão verbal.
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De acordo com a defesa dos réus, a medida protetiva serviria para preservar a integridade física de seus clientes. Á época do caso, o pai da vítima demonstrou indignação à solicitação, ao afirmar que esse é o “final dos tempos.” Ele ainda pediu solidariedade para entender o ataque ao policial.
Nota – SSP-SP
“A Polícia Militar esclarece que os diálogos descritos não representam o posicionamento institucional do Corpo de Bombeiros, tampouco condizem com as diretrizes e protocolos adotados pela Instituição.
Os fatos relacionados à morte do estudante foram rigorosamente investigados pelas polícias Civil e Militar. As imagens registradas pelas câmeras operacionais portáteis (COPs) foram anexadas aos procedimentos conduzidos pela Corregedoria da PM e pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). O policial militar envolvido foi indiciado por homicídio doloso no Inquérito Policial Militar (IPM) e permanece, desde o ocorrido, afastado de suas atividades operacionais. A Instituição aguarda a conclusão do processo criminal e a manifestação do Poder Judiciário.
Importante destacar que o atendimento à vítima foi realizado respeitando integralmente os protocolos de emergência. O jovem foi encaminhado prontamente ao Hospital Ipiranga, após contato com o médico regulador que atua no Copom. Esse profissional acompanha, em tempo real, a disponibilidade hospitalar, incluindo leitos, equipamentos e especialidades médicas, garantindo que a vítima seja levada ao local mais adequado para o atendimento.”

