População sofre consequências do calor de até 49°C; fornecimento de energia e plantações também são afetados
Este conteúdo foi originalmente publicado em Temperatura extrema testa limites humanos na Índia e no Paquistão no site CNN Brasil. Internacional, Altas temperaturas, Calor extremo, Índia, Onda de calor, Paquistão CNN Brasil
Para centenas de milhões de pessoas que vivem na Índia e no Paquistão, a chegada antecipada das ondas de calor do verão tornou-se uma realidade assustadora que está testando os limites da capacidade de sobrevivência e colocando enorme pressão sobre o fornecimento de energia, as plantações vitais e os meios de subsistência.
Os dois países vivenciam ondas de calor durante o verão, em maio e junho, mas a temporada quente deste ano chegou mais cedo do que o normal e a previsão é que dure mais.
As temperaturas devem atingir níveis perigosos nos países esta semana.
Segundo o departamento meteorológico do Paquistão, partes do país poderão enfrentar temperaturas de até 8 °C acima do normal entre os dias 14 e 18 de abril.
As médias máximas no Baluchistão, no sudoeste do país, podem chegar a 49°C.
É como viver no Vale da Morte — o lugar mais quente e seco da América do Norte — onde as temperaturas diurnas no verão costumam atingir níveis semelhantes.
Ayoub Khosa, morador da cidade de Dera Murad Jamali, no Baluchistão, comentou que a onda de calor chegou com uma “intensidade que nos pegou muito desprevenidos”, criando sérios desafios para os moradores.
“Um dos principais problemas são as constantes quedas de energia”, falou Khosa, que declarou à CNN que elas podem durar até 16 horas por dia.
“Isso intensificou o impacto do calor, dificultando a vida das pessoas”, acrescentou ele.

A vizinha Índia também tem enfrentado calor extremo, que chegou mais cedo do que o normal.
O departamento meteorológico alertou a população em algumas partes do país para se prepararem para um “número acima do normal de dias de onda de calor” em abril.
As temperaturas máximas na capital, Delhi, uma cidade com mais de 16 milhões de habitantes, já ultrapassaram os 40 graus Celsius pelo menos três vezes neste mês — até 5 graus acima da média sazonal — informou o departamento meteorológico.
O calor escaldante também está sendo enfrentado em vários estados vizinhos, incluindo o Rajastão, no noroeste, onde trabalhadores e agricultores estão tendo dificuldades para lidar com a situação e relatos de doenças começam a surgir.
As temperaturas máximas registradas em partes do Rajastão atingiram 44°C na segunda-feira (14), segundo o departamento de meteorologia.
Anita Soni, do grupo de mulheres Thar Mahila Sansthan, comentou que o calor está muito pior do que em outros anos e está preocupada com o impacto que isso terá nas crianças e mulheres do estado.

Quando as pessoas saem para trabalhar, há uma falta instantânea de água potável, elas frequentemente sentem vontade de vomitar, adoecem ou sentem tonturas, disse ela.
O agricultor Balu Lal relatou que as pessoas já estão adoecendo devido ao trabalho [ao ar livre]. “Não conseguimos nem suportar trabalhar aqui”, disse ele. “Quando estou fora, sinto que as pessoas vão se queimar devido ao calor lá fora.”
Lal comentou que se preocupa com o próprio trabalho e como vai ganhar dinheiro para a família. “Não temos para onde ir”, acrescentou ele.
Testando os limites da sobrevivência
Especialistas afirmam que o aumento das temperaturas está testando os limites humanos.
O calor extremo matou dezenas de milhares de pessoas na Índia e no Paquistão nas últimas décadas, e especialistas em clima alertaram que, até 2050, a Índia estará entre os primeiros lugares onde as temperaturas ultrapassarão os limites da sobrevivência.

Em condições de ondas de calor, mulheres grávidas e bebês ainda não nascidos estão particularmente em risco. “Há perdas gestacionais inexplicáveis e nascimentos prematuros”, comentou Neha Mankani, consultora da Confederação Internacional de Parteiras em Karachi.
“No verão, 80% dos bebês nascem prematuros com problemas respiratórios devido ao clima. Também observamos um aumento na hipertensão induzida pela gravidez, (que pode) levar à pré-eclâmpsia — a principal causa de mortalidade materna.”
Índia e Paquistão, ambos com disparidades gritantes em desenvolvimento, devem estar entre as nações mais afetadas pela crise climática — com a previsão de que mais de 1 bilhão de pessoas serão impactadas no subcontinente.
Efeitos cascata devastadores
As consequências prováveis variam de falta de alimentos e seca a inundações repentinas devido ao derretimento das calotas polares, segundo Mehrunissa Malik, especialista em mudanças climáticas e sustentabilidade de Islamabad, capital do Paquistão.
Comunidades sem acesso a medidas de resfriamento, moradia adequada e aquelas que dependem desses elementos para subsistência sentirão os efeitos de forma muito mais aguda, comentou Malik.
“Para os agricultores, o clima é irregular e difícil de prever”, disse ela.
“O principal desafio é o fato de as temperaturas estarem subindo em um momento em que as lavouras ainda não estão na fase de colheita. Elas começam a se preparar mais cedo, a produtividade diminui e, com esse calor seco, precisam de mais água… Se as plantas ainda são jovens, o calor intenso reduz as chances de elas sobreviverem”, explicou.

Tofiq Pasha, agricultor e ativista ambiental de Karachi, relatou que o verão começa muito mais cedo agora.
Sua província natal, Sindh, que, juntamente com o Baluchistão, registrou algumas das temperaturas mais altas do mundo nos últimos anos, sofreu uma grande seca durante os meses de inverno e a escassez de chuvas levou à escassez de água, disse ele.
“Isso será um grande problema de subsistência para os agricultores”, comentou Pasha, explicando como as temperaturas também afetam a chegada de pragas. “As flores não vingam, elas caem, os frutos não vingam, eles caem, há ataques de pragas, elas dizimam a plantação, às vezes fica muito quente… os ciclos são interrompidos. A produção de alimentos é extremamente afetada.”
No passado, ondas de calor aumentaram a demanda por eletricidade, levando à escassez de carvão e deixando milhões de pessoas sem energia.
Trens foram cancelados para economizar energia e escolas foram fechadas à força, impactando o aprendizado.
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