Com o crescimento da expectativa de vida das mulheres ao longo dos anos, faz-se necessário adotar meios de aumentar a qualidade de vida dessa população, defendem especialistas. Nesse cenário, os cuidados com a menopausa se destacam como essenciais, assim como a importância de agilizar o processo de aprovação de novos medicamentos e ampliar as opções terapêuticas. Tais mudanças fariam diferença na vida das mulheres atendidas tanto no sistema público quanto na saúde suplementar.
O assunto, que vem ganhando espaço nos últimos anos, ainda enfrenta resistência e as brasileiras estão entre as que mais sofrem impactos negativos da menopausa, segundo a Astellas. Estudo da farmacêutica aponta que 8 em cada 10 mulheres do país que estão ou já passaram por esta fase vivenciaram sentimentos psicológicos adversos.
Além disso, o estudo mostrou que 99% das mulheres brasileiras na menopausa têm impacto fisiológico, incluindo ondas de calor e suores noturnos (62 e 45% respectivamente), alterações de humor(47%), sono interrompido (33%) e confusão mental (8%).O tema foi debatido no encontro “A menopausa na pauta da Saúde”, realizado nesta quarta-feira (20/8), em Brasília, no qual se discutiram as lacunas da saúde e as possibilidades de melhoria da qualidade de vida das mulheres na fase da menopausa. O evento foi realizado pelo JOTA e patrocinado pela Astellas.
Participaram do encontro Mariliz Pereira Jorge, jornalista e cofundadora do podcast MenoTalks, Nilson Roberto de Melo, presidente da Associação Brasileira de Climatério (SOBRAC), e Renata Souza Reis, coordenadora-geral de Atenção à Saúde das Mulheres do Ministério da Saúde.
Na conversa, o médico Nilson Roberto de Melo apontou que a expectativa de vida das mulheres cresceu muito ao longo dos anos e comentou que não adianta aumentar anos de vida sem qualidade. “Não podemos deixar as mulheres semi-abandonadas em uma etapa da vida tão importante para elas”, comentou.
Nesse cenário, ele destacou a necessidade de um olhar integral para a saúde da mulher. “A melhora da qualidade de vida envolve vários aspectos”, explicou, citando o tratamento medicamentoso, a prática de atividade física e a alimentação saudável.
Mariliz Pereira Jorge compartilhou sua experiência convivendo e conversando com outras mulheres no período de climatério, destacando que, para muitas, o tema ainda é difícil de lidar porque elas não querem associar essa fase ao fim da vida social, profissional e sexual. “É uma questão de vergonha para a maioria das mulheres que associam o fim da idade reprodutiva com o fim da vida pessoal, da vida profissional, e da vida sexual. As mulheres não querem ser olhadas dessa forma.”

A criadora do podcast MenoTalks argumentou, porém, que aos 50 anos a mulher ainda é jovem para ser olhada como uma figura que pode ser descartada em sociedade. E defendeu: “Precisamos unir esforços entre imprensa, sociedade médica, empresas privadas, governo e Congresso para começar a olhar para isso.”
A partir de sua própria experiência, Mariliz relatou o despreparo da própria comunidade médica para lidar com a menopausa, além da falta de informação para a sociedade, e foi corroborada pelo presidente da SOBRAC. “As mulheres são maioria [da população], e esse tema deve ser levado pra rua, talvez por meio de um movimento”, completou o médico.
Avanços nos cuidados da menopausa no Brasil
Renata Souza Reis e Nilson Roberto de Melo comentaram os avanços nos cuidados da menopausa no Brasil. A especialista também defendeu a necessidade de se olhar de forma específica para este período. “[O climatério] é sim um período fisiológico, uma transformação que vai acontecer, mas que nem por isso prescinde de cuidados específicos e pela qual as mulheres não precisam passar sozinhas e desamparadas”, disse.
O presidente da SOBRAC trouxe um panorama comparativo dos cuidados com a mulher brasileira no climatério em relação a outros países na América do Sul. Chile, Colômbia e México foram alguns lugares destacados pelo médico como mais avançados em termos de tratamentos. Atuando no sistema público e privado, ele também questionou a disponibilidade dos tratamentos para as mulheres.

Renata informou que o Ministério da Saúde vem trabalhando para revisitar a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Mulheres (PNAISM), que abarca também os cuidados com a menopausa. “Também temos trabalhado desde o ano passado no processo de escuta de mulheres com o apoio do instituto Fiocruz de Brasília, com gestoras de estados e municípios que conduzem as áreas técnicas de mulheres na intenção de fortalecer essa política, que norteia de forma atual como devemos trabalhar no SUS.”
Entre outras ações de destaque, a representante do Ministério da Saúde comentou da atualização em andamento do Manual do Climatério e do curso online previsto para ser lançado em setembro sobre cuidados na transição menopausal e na perimenopausa. E afirmou: “Devemos produzir saúde, vida, dignidade e felicidade para as mulheres porque esse é o nosso compromisso ético enquanto profissionais de saúde. Temos a responsabilidade em nossas mãos de ser garantidores de direitos.”
Assista o evento na íntegra a seguir:
MAT-BR-NON-2025-00177 Agosto/2025