Fontes relatam que presidente garantiu “várias vezes” que pretende reclassificar o produto Internacional, Donald Trump, Drogas, Estados Unidos, Maconha CNN Brasil
Em um jantar recente em seu clube particular em Bedminster, no estado de Nova Jersey, Donald Trump falava sobre a decisão de demitir o principal estatístico econômico do país e fazia piadas sobre a política da cidade de Nova York.
Porém, em certo momento, a conversa se voltou para uma questão politicamente controversa e ainda em aberto: o afrouxamento das restrições federais à maconha nos Estados Unidos.
“Precisamos analisar isso. É algo que vamos analisar”, reconheceu Trump diante do pequeno grupo de doadores, segundo duas pessoas que estavam no evento.
Há quase um ano, o republicano sugeriu que seu retorno à Casa Branca mudaria o status da maconha, facilitando o acesso de adultos a produtos seguros e dando aos estados maior margem de manobra para buscar a legalização da droga.
Ele sinalizou apoio a tirar a maconha da mesma categoria que narcóticos perigosos, como a heroína. Isso o diferenciou de muitos de seus antecessores republicanos e ocorreu em um momento em que Trump conquistava americanos mais jovens, grupos minoritários e eleitores com tendências libertárias.
Mas, sete meses após o início de seu segundo mandato como presidente, a falta de ação em relação à maconha continua sendo uma promessa não cumprida notável para um chefe de Estado que agiu rapidamente em relação a outras promessas de campanha.
Nos bastidores, a questão expôs falhas profundas dentro da equipe de Trump. Os principais assessores políticos, que lideraram uma campanha agressiva para cumprir as promessas de campanha, pediram ação, de acordo com duas pessoas familiarizadas com as discussões internas.
Eles argumentaram que tal medida poderia ajudar a fortalecer o apoio republicano antes das eleições de meio de mandato, que acontecem no ano que vem.
Outros assessores políticos, no entanto, permanecem cautelosos, alertando que as ramificações morais e legais do afrouxamento das restrições à maconha podem superar os possíveis ganhos e até mesmo ter um efeito político contraproducente.
Em declaração à CNN, a porta-voz da Casa Branca, Abigail Jackson, afirmou que, quando se trata da maconha, “todos os requisitos e implicações políticas e legais estão sendo considerados”.
“O único interesse que orienta a decisão política do presidente é o que é do melhor interesse do povo americano”, ressaltou.
Fontes relatam promessa de Trump sobre maconha
As discussões sobre o tema se intensificam, enquanto sinais dúbios são telegrafados publicamente sobre o que Trump pode fazer a seguir.
O CEO da Scotts Miracle-Gro, James Hagedorn, disse à Fox Business na semana passada que Trump garantiu a ele e a outras pessoas, “várias vezes” em particular que planeja reclassificar a maconha para uma categoria de substâncias menos controlada.
A gigante de 157 anos de jardinagem e gramados tornou-se líder na incipiente indústria da cannabis, com um negócio de hidroponia em rápido crescimento.
Segundo registros da Comissão Eleitoral Federal, a companhia doou US$ 500 mil a um super PAC (comitê de ação política) alinhado a Trump no ano passado.
Mas a reforma da política sobre maconha esteve visivelmente ausente dos principais objetivos recentemente publicados pelo recém-empossado chefe da Agência Antidrogas de Trump, Terrance Cole.
Hagedorn disse que a recente rejeição de Cole à cannabis não foi surpreendente, vindo de um “policial de carreira”.
“Acho que o que (Cole) precisa ouvir é um telefonema do presidente ou do chefe de gabinete dizendo: ‘Esta é uma promessa que ele fez durante a campanha, e promessas feitas são promessas cumpridas’”, comentou ele à Fox Business.

Essa “promessa” de Trump, como Hagedorn a descreveu, chegou em uma mensagem nas redes sociais no ano passado, durante os meses finais de sua campanha presidencial, quando ele pressionava agressivamente para expandir sua coalizão para além dos eleitores tradicionais do Partido Republicano.
Em setembro, em uma publicação na Truth Social, o presidente anunciou que pretendia votar a favor de uma medida eleitoral para legalizar o uso recreativo da maconha em seu estado natal, a Flórida.
Trump acrescentou que, como presidente, “continuaria a se concentrar em pesquisas para desvincular os usos medicinais da maconha de uma droga da Lista 3”.
A maconha é atualmente classificada como droga da Lista 1 – a categoria federal para substâncias ilícitas com “nenhum uso medicinal atualmente aceito e alto potencial de abuso”.
Transferi-la para a Lista 3, que a Agência Antidrogas define como “drogas com potencial moderado a baixo de dependência física e psicológica”, é algo que Trump afirmou apoiar.
“Como já afirmei anteriormente, acredito que é hora de acabar com as prisões e encarceramentos desnecessários de adultos por pequenas quantidades de maconha para uso pessoal”, escreveu Trump na publicação.
Ele chegou a discutir o assunto com Joseph Edgar Foreman, o rapper pró-maconha mais conhecido como Afroman, quando os dois compareceram à Convenção do Partido Libertário em Washington, D.C., no último verão.
Uma medida óbvia?
Uma questão levantada nas discussões sobre o assunto é se a reclassificação da maconha prejudicaria a capacidade das autoridades policiais de usar o cheiro da maconha como causa provável para abordagens e buscas, pontuou uma das fontes.
Para Trump, cuja plataforma de combate ao crime tem enfatizado a capacitação da polícia para perseguir criminosos por drogas, essa preocupação pode surgir como um ponto crítico.
Há também as opiniões pessoais do presidente. Embora a postura pública dele em relação ao uso de maconha tenha se suavizado nos últimos anos, ele continua sendo um abstêmio conhecido, cujas opiniões sobre o uso de drogas foram drasticamente moldadas pelo vício em álcool de seu falecido irmão.
Em comentários gravados em 2018, Trump compartilhou outras preocupações – não comprovadas – sobre a droga.
“No Colorado, eles têm mais acidentes. Isso causa um problema de QI”, disse.
Defensores pedem liberação da maconha nos EUA
Os defensores de uma mudança têm pedido ao republicano, pública e privadamente, a se comprometer com a reclassificação da maconha, argumentando que isso abriria oportunidades de pesquisa, criaria empregos e daria clareza a milhões de pacientes em estados que legalizaram a maconha medicinal, incluindo muitos militares veteranos.
Em abril, a CNN noticiou que um grupo apoiado pela indústria da cannabis, o American Rights and Reform PAC, veiculou anúncios pró-maconha visando especificamente as TVs de Trump na Casa Branca e em Mar-a-Lago.
O PAC também doou US$ 1 milhão (equivalente a cerca de R$ 5 milhões) em março para a MAGA, Inc., um super PAC alinhado a Trump, segundo registros recentes da FEC.
Em 2024, a empresa de maconha Trulieve e o Conselho de Cannabis dos EUA contribuíram com um total de US$ 1 milhão para a posse de Trump.
Outras vozes influentes também pediram ação. O podcaster Joe Rogan, um apoiador fundamental durante a campanha presidencial, reiterou seu apelo pela legalização da maconha em seu programa no mês passado.
E Alex Bruesewitz, o conselheiro da Geração Z de Trump, que liderou o cortejo do republicano por jovens no ano passado, também recorreu às redes sociais recentemente para pedir uma mudança na política sobre a maconha, sugerindo que ela tem amplo apoio.
Ele considerou a reclassificação da droga uma “sugestão óbvia”.
Quase 60% dos americanos apoiam a legalização da maconha recreativa, contra 11% das pessoas que acham que ela não deveria ser legalizada para nenhum propósito, de acordo com uma pesquisa do Pew Research Center de 2024.
Levantamentos recentes sugerem que o presidente corre o risco de perder apoio entre os jovens, à medida que Rogan e outros influenciadores se desiludem com o retorno de Trump a Washington.
Uma mudança de grande repercussão na política sobre a maconha poderia ser uma maneira de reconquistá-los.
Em um memorando divulgado pela CNN no início deste ano, o principal pesquisador de Trump, Tony Fabrizio, e seus parceiros escreveram que mudar a política sobre a maconha era “uma maneira fácil de atrair os eleitores necessários para vencer em 2026, especialmente os eleitores jovens”.
*Alayna Treene, da CNN, contribuiu para esta reportagem