Uma das autoras mais influentes do movimento pós-modernista brasileiro, ela também atuou como pesquisadora de literatura comparada Educação, Literatura CNN Brasil
Na próxima segunda-feira, 29 de setembro, a escritora e ativista da cultura negra Conceição Evaristo receberá o título de Doutora Honoris Causa da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
A solenidade terá início às 19h no auditório da Reitoria, no campus Pampulha. A iniciativa da homenagem partiu da Fale (Congregação da Faculdade de Letras) da UFMG.
Em depoimento gravado em vídeo enviado ao Portal UFMG, Conceição Evaristo falou sobre a alegria e a gratidão de receber o título. Segundo ela, trata-se de mais um momento feliz em que ela vive a capital mineira. “É um momento em que o passado e o presente se confluem, porque eu me vejo menina, eu me vejo jovem, eu me vejo com todos os sonhos que eu tive em Belo Horizonte, de onde eu tive que sair para poder fazer a minha carreira profissional. Agradeço à vida e tenho certeza que a literatura me escolheu, assim como a UFMG está me escolhendo agora para me conferir esse título”, celebrou.
Trajetória
Maria da Conceição Evaristo de Brito nasceu em 1946, em Belo Horizonte. De origem humilde, foi criada na periferia e teve sua mãe como principal incentivadora do hábito da leitura.
Mudou-se para o Rio de Janeiro na década de 1970, onde se graduou em Letras pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e trabalhou como professora da rede pública de ensino da capital fluminense.
A autora é mestra em Literatura Brasileira pela PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), com a dissertação Literatura negra: uma poética de nossa afro-brasilidade, e doutora em Literatura Comparada na UFF (Universidade Federal Fluminense), com a tese Poemas malungos, cânticos irmãos.
Neste último trabalho, estudou as obras poéticas dos autores afro-brasileiros Nei Lopes e Edimilson de Almeida Pereira, em confronto com a obra do angolano Agostinho Neto.
Ao longo de toda a sua vida, Conceição Evaristo participou ativamente dos movimentos de valorização da cultura negra no Brasil. A autora estreou na literatura em 1990, quando passou a publicar seus contos e poemas na série Cadernos negros. Escritora versátil, se destacou por cultivar a poesia, a ficção e o ensaio, tendo obras publicadas na Alemanha, na Inglaterra e nos Estados Unidos.
Em 2003, publicou o romance Ponciá Vicêncio pela Editora Mazza. A obra ganhou destaque, sendo selecionada para o vestibular da UFMG em 2008 e em 2009. Com narrativa não linear marcada por seguidos cortes temporais, em que passado e presente se imbricam, Ponciá Vicêncio teve boa acolhida da crítica e do público, sendo traduzido para o inglês e publicado nos Estados Unidos em 2007.
Em 2006, Conceição Evaristo publicou seu segundo romance, Becos da memória, em que trata, com o mesmo realismo poético presente no livro anterior, do drama da comunidade de uma favela em processo de remoção. Mais uma vez, o protagonismo da ação coube à figura feminina símbolo de resistência à pobreza e à discriminação.
Dois anos depois, Conceição Evaristo publicou Poemas de recordação e outros movimentos, em que mantém sua linha de denúncia da condição social dos afrodescendentes, porém inscrita num tom de sensibilidade e ternura próprios de seu lirismo, que revela um minucioso trabalho com a linguagem poética.
Em 2011, a escritora lançou o volume de contos Insubmissas lágrimas de mulheres, em que trabalhou o universo das relações de gênero num contexto social marcado pelo racismo e pelo sexismo. Em 2014, publicou Olhos D’água, livro finalista do Prêmio Jabuti na categoria Contos e crônicas. Dois anos depois, lançou mais um volume de ficção, Histórias de leves enganos e parecenças.
Nos últimos anos, três de seus livros, que continuam recebendo novas edições no Brasil, foram traduzidos para o francês e publicados em Paris pela editora Anacaona. Em 2017, o Itaú Cultural de São Paulo realizou a Ocupação Conceição Evaristo, contemplando aspectos da vida e da literatura da escritora. No contexto da exposição, foram produzidas as Cartas Negras, retomando projeto de troca de correspondências entre escritoras negras iniciado nos anos 1990.
Em 2018, Conceição Evaristo recebeu o Prêmio de Literatura do Governo de Minas Gerais pelo conjunto de sua obra. Em 2023, publicou Macabea, flor de mulungu, conto em que dialoga com A hora da estrela, de Clarice Lispector. Também em 2023, a autora foi agraciada com o Prêmio Intelectual do Ano, concedido pela União Brasileira de Escritores (UBE). Em 8 de março de 2024, Conceição Evaristo tomou posse como integrante da Academia Mineira de Letras, ocupando a cadeira de número 40.
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