O tarifaço promovido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, colocou água no chope de Tarcísio de Freitas e de setores que sonham com sua candidatura à Presidência, como a Faria Lima, parte do empresariado, da mídia e do centrão. A avaliação predominante em Brasília, inclusive entre aliados do governador de São Paulo, é que ele se atrapalhou na reação às medidas, desagradando a gregos e troianos, e saiu enfraquecido na disputa com o bolsonarismo raiz para ser o nome da oposição na corrida de 2026.
Ao vincular as tarifas de 50% aos produtos brasileiros à situação jurídica de Jair Bolsonaro, Trump deixou Tarcísio em uma saia justa. Ele não é um candidato viável ao Planalto sem o apoio do ex-presidente, mas comanda o estado que mais exporta para os EUA e, portanto, o mais afetado pelas medidas anunciadas com o carimbo da conspiração de Eduardo Bolsonaro em Washington.
Informações direto ao ponto sobre o que realmente importa: assine gratuitamente a JOTA Principal, a nova newsletter do JOTA
Entre defender os interesses do padrinho político e os do empresariado local, escolheu inicialmente a primeira opção. “Um tiro no pé”, como definiram aliados nos bastidores. Depois recuou, com o estrago já feito.
Os recentes editoriais do Estadão servem como bom termômetro do humor da elite econômica paulista. O mesmo jornal que em 2018 publicou o célebre “Uma escolha muito difícil”, sobre o segundo turno entre Bolsonaro e Fernando Haddad, criticou duramente o governador em ao menos três editoriais desde o início da crise. No mais recente, “O Teorema de Tarcísio”, afirma que ele “se encardiu de bolsonarismo” e que, “se for um verdadeiro democrata, não se importará de perder a próxima eleição se esse for o preço a pagar pela reafirmação dos mais caros valores da democracia brasileira”.
Essa realidade sintetizada pelo jornal coloca Tarcísio diante de sua própria “escolha muito difícil”: seguir investindo na candidatura presidencial “encardido de bolsonarismo” ou deixar passar o cavalo selado e tentar a reeleição em São Paulo, considerada certa.
Um grupo liderado por Gilberto Kassab, presidente do PSD e secretário de Governo da gestão Tarcísio, defende a segunda hipótese e vai além. Para essa ala, após o desastrado episódio com Trump, o governador deveria se afastar de vez do clã Bolsonaro e se apresentar como um autêntico homem de centro. Assim, Tarcísio deveria mirar o Planalto em 2030, com Lula aposentado, Bolsonaro fora do páreo e o país menos polarizado.
Na outra ponta está o grupo liderado pelo presidente do PP, Ciro Nogueira. A interlocutores, o senador piauiense tem defendido que Tarcísio está mais forte do que nunca e que quem mais perde com a indignação causada pelas tarifas é Eduardo. No entorno do ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro, a avaliação é que uma eventual prisão não deixará ao ex-presidente alternativa senão apoiar o governador de São Paulo, na esperança de ser recompensado com um indulto.
Se optar pela trilha de Ciro Nogueira, Tarcísio terá outros desafios. O maior deles é a resistência do bolsonarismo raiz. O governador é visto com desconfiança tanto pela família Bolsonaro quanto, em certa medida, pelo próprio ex-presidente. Além disso, se o cenário mudar como mudou para Lula, o hoje inelegível Bolsonaro pode querer retornar em 2030. A chance de alguém da família abrir mão de uma eventual reeleição para beneficiá-lo é infinitamente maior do que a de Tarcísio fazer o mesmo.
Inscreva-se no canal de notícias do JOTA no WhatsApp e fique por dentro das principais discussões do país!
Apesar de apontado como favorito para unir partidos do centrão, o governador ainda enfrenta resistências entre dirigentes dessas siglas, que se queixam de sua pouca abertura ao diálogo. Alegam que o único com real influência é Kassab, que despacha diariamente com ele no Palácio dos Bandeirantes.
Diante desse impasse, Kassab já se movimenta para lançar outro nome ao Planalto: o governador do Paraná, Ratinho Júnior. O movimento visaria alavancar candidaturas do PSD ao Congresso e dar identidade nacional ao partido. Em outra frente, o União Brasil sinaliza com o nome de Ronaldo Caiado, governador de Goiás. E ainda há quem, no centrão, sonhe com uma chapa puro-sangue do bloco, com a bênção de Bolsonaro, para fazer frente a Lula. Falta combinar com os russos – ou, no caso, com o ex-presidente.
Bolsonaro detém a maior fatia dos votos da oposição e caberá a ele a primazia de decidir quem será o principal adversário de Lula em 2026. Prestes a ser condenado por tramar um golpe de Estado, não tem nenhum motivo neste momento para abrir mão dessa prerrogativa. Muito menos para entregar de bandeja a um aliado dentro ou fora da família todo o seu capital político a um ano e três meses da eleição.

