Letícia Fontoura e Pedro Centurião são donos da North Idiomas, escola de idiomas em Santa Maria (RS); casal dá dicas para empreender a dois e encontrar equilíbrio entre vida profissional e pessoal Negócios, Empreendedorismo CNN Brasil
Empreender a dois pode ser uma experiência enriquecedora, mas também desafiadora quando o parceiro de negócios é também o cônjuge.
Turbulências convencionais para empreendedores — sejam eles de primeira viagem ou não — como a separação das finanças pessoais e empresariais e a incansável busca pelo equilíbrio entre vida pessoal e trabalho, tornam-se ainda mais latentes, exigindo comunicação clara, maturidade emocional e alinhamento de objetivos — mas, dessa vez, a dois.
A busca por esse equilíbrio também foi um desafio para Letícia Fontoura e Pedro Centurião, casal de Santa Maria, Rio Grande do Sul.
Na visão de Letícia, que há sete anos comanda uma escola de idiomas ao lado do marido, a resolução desses problemas começa pela definição clara de papéis. “Só um dos dois pode ser o CEO, a real liderança do negócio”, relata.
“É possível dividir as funções, mas é preciso que haja apenas um líder, aquela pessoa que tem a maior parte das responsabilidades. Não há como ter dois caciques em uma mesma aldeia”, diz.
A busca por diferentes experiências profissionais durante a faculdade levou a gaúcha a investir na carreira de professora por anos a fio.
Da cidade de Santa Maria, conhecido polo universitário e educacional do Sul do país, ela lecionava língua inglesa para adultos em escolas particulares. Uma demissão repentina, porém, fez despertar em Letícia um novo desejo: o de ter um negócio próprio.
Unir a vocação para o ensino ao sonho do empreendedorismo surgiu junto à busca por mais independência e necessidade financeira. “Tive um dos piores meses da minha vida. Foi difícil financeiramente, e principalmente por sentir que eu não estava desempenhando nenhum papel útil”, conta Letícia.
Era por meio de um negócio próprio, acreditava, que também encontraria mais autonomia, flexibilidade e também a chance de desenvolver um método próprio de ensino, distante das limitações e padrões que precisam ser seguidos em grandes redes de franquia de idiomas ou escolas.
“Passei por um processo seletivo traumático para uma franquia de idiomas. Percebi que dificilmente teria espaço no mercado sem ter meu próprio negócio. Foi uma verdadeira ruptura, e quando decidi que eu mesma criaria um emprego para mim”, lembra.
Assim nasceu, em 2017, a North Idiomas, escola de inglês. A iniciativa começou após um plano de negócios estruturado junto ao Sebrae. O foco inicial era no ensino profissional, atendendo pessoas interessadas em receber cursos de inglês dentro dos próprios ambientes corporativos. O modelo, contudo, não decolou.

Repaginada, a escola passou a oferecer aulas particulares em um pequeno coworking na cidade a partir de 2018.
“A North era uma empresa de eu e eu, e tinha mais de 20 alunos — que é um número impressionante para uma única professora particular. Eu monopolizava aquele coworking”, brinca.
O público-alvo também se ampliou na época: Letícia passou a ensinar inglês a crianças e adolescentes.
No mesmo período, seu então namorado — também professor de inglês — decidiu se juntar ao negócio. Juntos, o casal alugou um espaço comercial de 25 metros quadrados, transformando-o em duas salas de aula.
Da parceria surgiram resultados positivos no curto prazo, e logo o negócio precisou crescer. A expansão para um espaço comercial maior, que futuramente se tornaria a sede da North Idiomas, demandou a contratação de uma equipe e um investimento robusto em reformas estruturais da locação, em 2019.
Mas foi em março de 2020 que a pandemia trouxe um duro golpe: muitos alunos cancelaram as aulas. A ruptura fez com que o casal se adaptasse ao ensino remoto e, junto com a autorização para retomar as turmas presenciais, em agosto, a North se tornou uma das únicas escolas a atender nos dois modelos.
A partir daí, o negócio voltou a crescer — dobrando o número de alunos até dezembro. “Foi uma virada de chave, passamos a ser conhecidos e procurados”, diz Letícia.
O ritmo de crescimento se mantém desde então. De 2020 a 2024, o número de salas de aulas saltou de quatro para nove. Apenas em 2025, o negócio já faturou meio milhão de reais.
Hoje, a North conta com 11 professores (entre eles Letícia e Pedro), além de um funcionário administrativo.
“Para mim há uma diferença entre ser empresário e empreendedor. Eu vivo o CNPJ, e tenho prazer em ainda lecionar e estar no operacional. O empreendedor vive o CNPJ 24 horas por dia, por isso me identifico como empreendedora”, brinca.
Dicas para empreender a dois
Dicas para empreender a dois
Além da definição de atribuições, gerenciar um negócio a dois também impõe desafios relacionados à rotina e à gestão de conflitos. Superá-los passa por estabelecer rotinas bem definidas e respeito mútuo, defende Letícia.
“Fala-se muito sobre dividir o tempo entre trabalho e vida pessoal. Não acho que isso seja uma regra para todos. Adoramos sentar no sofá e falar sobre trabalho, à noite, mesmo após um longo dia. Tudo está relacionado a entender o que funciona para cada casal”, diz.
Já em relação ao respeito, ela destaca a necessidade de se compreender que, mesmo no casal, há perfis diferentes para cada empreendedor, seja ele mais estratégico ou mais operacional.
“Não é preciso que os dois tenham exatamente o mesmo perfil e vocação empreendedora. Inclusive, essa diferença de perfis é algo que se complementa”, diz.
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Por Maria Clara Dias