A história dos conflitos armados ensina que contar cadáveres entre as fileiras inimigas não equivale a alcançar a vitória Rio de Janeiro, Comando Vermelho, Megaoperação, Waack, William Waack, ww CNN Brasil
O secretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro afirmou que a megaoperação contra o Comando Vermelho foi um sucesso que muda a história do combate ao crime organizado. No entanto, se a história serve de lição, operações consideradas bem-sucedidas em ocasiões semelhantes, no mesmo lugar, não resultaram em mudanças sensíveis no enfrentamento às facções criminosas. Ao contrário: as próprias autoridades admitem que os grupos armados estão mais fortes, mais organizados e, por isso, deveriam até mesmo mudar de categoria, sendo classificados como grupos terroristas.
A história dos conflitos armados também ensina que contar cadáveres entre as fileiras inimigas — neste caso, os integrantes da facção Comando Vermelho — não equivale a alcançar a vitória. Como o próprio secretário de Polícia reconhece, o crime organizado é um fenômeno de enorme complexidade. Ele se expandiu ao longo do tempo, infiltrou-se no Estado, ocupou e mantém dominadas vastas áreas urbanas. Além disso, internacionalizou-se, diversificou suas atividades ilícitas, transferiu parte dos lucros para a economia formal e faz uso calculado e inteligente dos instrumentos do sistema financeiro.
A experiência histórica mostra ainda que os raros casos de sucesso no combate ao crime organizado dependeram da convergência de forças políticas, da consciência coletiva sobre a gravidade da situação e de estratégias coordenadas em vários níveis. Nada disso, porém, parece existir hoje no Brasil.
O país que emerge desse episódio é o retrato de uma nação incapaz de lidar com o fenômeno explosivo da violência, do crime e do espetáculo de horror representado pela fila de corpos ensanguentados em praça pública — um país em que quem apenas “enxuga gelo” acredita estar obtendo sucesso.

