Quem está saindo julgado do julgamento de Jair Bolsonaro é o próprio Supremo Tribunal Federal Política, Jair Bolsonaro, Julgamento Bolsonaro, Luiz Fux, STF (Supremo Tribunal Federal), Waack, William Waack, ww CNN Brasil
Quem entrou para ser julgado no STF (Supremo Tribunal Federal) foi o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Mas quem está saindo julgado junto é o próprio Supremo. Desta vez, por obra de um de seus integrantes, o ministro Luiz Fux.
Fux absolveu Bolsonaro dos cinco crimes dos quais era acusado — entre eles, o de tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito. Curiosamente, esse mesmo crime motivou a condenação de dois de seus subordinados: o então ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid, e seu vice-presidente, general Braga Netto. O chefe foi absolvido, enquanto os subordinados foram condenados?
No entanto, Fux não absolveu apenas Bolsonaro — ele também questionou severamente o próprio Supremo. Para começar, afirmou que o STF sequer deveria estar julgando esse processo penal. E, se de fato estivesse, o julgamento deveria ocorrer no plenário, e não em uma de suas turmas.
Mas Fux foi muito, muito além. Em seu voto, afirmou: “Ao contrário de outros poderes, não compete ao Supremo Tribunal Federal realizar juízo político“. E prosseguiu: “O papel do julgador não pode ser confundido com o de ator político”.
Para absolver Bolsonaro, Fux tratou de desmontar todos os pontos da acusação, à qual atribuiu a incapacidade de diferenciar entre provas e interpretações. Até aqui, poderia-se dizer que se trata de um debate jurídico comum, dentro dos limites da atuação dos operadores do Direito.
Contudo, o que Fux expôs foi algo maior: uma profunda rachadura dentro do próprio Supremo quanto ao seu papel diante de circunstâncias particularmente delicadas.
O STF encontra-se sob ataque — inclusive por influência dos Estados Unidos, atiçado por correntes políticas ligadas ao bolsonarismo, que buscaram apoio na Casa Branca para livrar Bolsonaro da cadeia.
O motivo que levou Fux a incendiar o cenário institucional ainda será objeto de reflexão por parte de muitos historiadores. Mas o que ele disse, também.
No Brasil, perdeu-se o juízo.

