Segundo o instituto, alegações sobre quantidade de proteína em produtos ultraprocessados podem levar o consumidor a acreditar que está fazendo uma escolha alimentar mais saudável Saúde, Alimentação, Alimentos ultraprocessados, Idec, Proteína CNN Brasil
O Instituto de Defesa dos Consumidores (Idec) divulgou, nesta quarta-feira (6), um levantamento que mostrou que a maioria das informações sobre quantidade de proteína em alimentos e bebidas vendidos nos supermercados pode induzir o consumidor ao erro. A pesquisa visa alertar para a crescente onda de “alimentos proteicos”, que, muitas vezes, são vendidos como alternativas mais saudáveis, apesar de serem ultraprocessados.
A popularidade de produtos alimentícios proteicos — como bebidas, barras, sopas, paçocas, doces e, até mesmo, refrigerante e cerveja — acompanha o aumento no interesse pela prática de atividade física e pela busca de um estilo de vida mais saudável. Isso porque muitas pessoas acreditam que só vão evoluir na prática de exercícios suplementando esse nutriente, o que nem sempre é verdade.
Com isso, virou comum que alguns produtos coloquem logo na frente da embalagem informações sobre a quantidade de proteína que aquele alimento ou bebida possui. Antigamente, esse era um dado presente apenas na tabela nutricional. O Idec decidiu, então, investigar se essas alegações adicionadas em produtos ultraprocessados comercializados no Brasil estão alinhadas com as normas nacionais vigentes e com os princípios do Guia Alimentar para a População Brasileira.
O levantamento foi feito virtualmente entre os dias 9 e 16 de maio, utilizando o website de uma grande rede nacional de supermercados. Foram identificados 60 produtos, dos quais 52 atenderam aos três seguintes critérios: apresentar alegação de proteína no rótulo; ser classificado como ultraprocessado pela classificação Nova de alimentos, desenvolvida pela USP, e declarar o ingrediente responsável pela fortificação proteica entre os cinco primeiros da lista de ingredientes.
Nos 52 produtos, foram encontradas 65 alegações relacionadas à proteína. Os resultados demonstraram que a maioria dessas alegações é referente à quantidade (44 delas) e que as presentes em 11 produtos podem induzir os consumidores ao erro.
Além disso, observou-se que alimentos que antes eram minimamente processados ou processados tornaram-se ultraprocessados apenas para atender à tendência de fortificação proteica, contrariando os princípios do Guia Alimentar.
Dessa forma, o instituto conclui que as alegações referentes ao conteúdo de proteína dos rótulos, em geral, podem induzir o consumidor a acreditar que estará fazendo uma escolha alimentar mais saudável. Segundo o Idec, isso é preocupante porque pode estimular a troca de um alimento saudável por um produto industrializado, além de induzir o consumidor a acreditar que está consumindo uma quantidade de proteína diferente da real.
O instituto também destaca que a adição de nutrientes considerados saudáveis (como as proteínas), em produtos ultraprocessados, não garante os mesmos benefícios nutricionais que o consumo desses nutrientes em alimentos in natura ou minimamente processados.
“A adição de proteína nessa categoria de produtos não representa benefícios reais devido à sua composição, trazendo, na verdade, potenciais malefícios. Os alimentos in natura ou minimamente processados, como os diferentes tipos de feijão, a lentilha, os ovos, o leite e seus derivados, são mais benéficos por oferecerem qualidade nutricional sem os prejuízos do ultraprocessamento”, afirma Mariana Ribeiro, nutricionista do programa de Alimentação Saudável e Sustentável do Idec.
“Ao mesmo tempo que os ultraprocessados proteicos são exaltados, os alimentos tradicionais, culturais e acessíveis têm sido desvalorizados no imaginário social”, alerta.
Levantamento do Idec vai ao encontro de especialistas
O alerta realizado pelo Idec vai ao encontro do que especialistas da área de nutrição e saúde já haviam falado sobre produtos proteicos. Em matéria publicada anteriormente na CNN, Daniela Gomes, nutróloga do Hospital Albert Sabin, explicou que esses produtos são, em sua maioria, vendidos como alternativas saudáveis, mas trata-se de produtos ultraprocessados, de longa duração e que, no geral, têm uma quantidade de gordura presente e embutida.
Além disso, ela alerta para a falsa ideia de que alimentos e bebidas proteicas são o suficiente para o ganho de massa muscular.
“Existe uma tendência ao consumo de produtos proteicos na população em geral em função do modismo relacionado ao ganho de massa muscular e perda de peso. Mas sabemos que isso depende não somente da ingestão proteica, mas da ingestão calórica total e da realização de atividade física”, afirma.
Para Eric Slywitch, doutor e mestre em Nutrição pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), existe uma interpretação equivocada sobre o consumo de alimentos proteicos.
“Nós sabemos que a proteína é um nutriente fundamental e que precisa ser consumido, já que possui aminoácidos que não produzimos, os ‘aminoácidos essenciais’”, explica à CNN. “Mas essa ideia de que as proteínas vão ajudar a ter mais músculo é um pouco deturpada, porque, para que isso aconteça, é preciso praticar atividade física. O estímulo da contração muscular é o principal elemento para a hipertrofia. A proteína, na verdade, entra como recurso para a construção dessa massa muscular”, completa.
Por isso, a dica é estar atento ao rótulo e à tabela nutricional dos produtos. A principal forma de diferenciar um alimento ultraprocessado daquele minimamente processado é a lista de ingredientes: se houver muitos itens químicos, com nomes difíceis de serem pronunciados, é provável que o produto seja ultraprocessado.
Além disso, é importante consultar um nutricionista ou nutrólogo antes de fazer a suplementação de proteína. Em muitos casos, ela não é necessária, e o aporte proteico pode ser feito através do consumo de alimentos in natura, como carne, frango, ovo, peixes e leguminosas.
De maneira geral, órgãos internacionais, como a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), recomendam uma ingestão diária entre 0,6 g a 0,8 g de proteína por quilo de peso corporal.